A Alstom planeja ampliar sua participação no mercado eólico brasileiro sem deixar de lado o segmento hidrelétrico. A multinacional francesa, que anunciará até o fim do mês os detalhes e o local da sua segunda unidade de produção de equipamentos eólicos no país, vai dobrar no primeiro semestre de 2013 a capacidade de sua primeira planta, em Camaçari (BA), para 600 megawatts (MW) ao ano.
Na área hidrelétrica, a companhia vai concluir no próximo ano o investimento, de € 6 milhões, em um centro de tecnologia em Taubaté (SP) para estudar turbinas para usinas de baixa queda d’água (até 60 metros de altura). Tal perfil é encontrado nos aproveitamentos hidrelétricos da região Amazônica, como as usinas do rio Madeira, em Rondônia. O objetivo da Alstom é ser a principal fornecedora do complexo do rio Tapajós (PA), de pouco mais de 10 mil MW de potência e R$ 31 bilhões de investimentos. As cinco usinas devem ser leiloadas em 2013.
A empresa participa dos consórcios fornecedores de turbinas das quatro principais hidrelétricas em construção no país: Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO); Belo Monte, no rio Xingu (PA); e Teles Pires, no rio de mesmo nome, em Mato Grosso.
“Em termos mundiais, as vendas para hidroeletricidade são três vezes maiores do que na área eólico. Mas os dois negócios estão crescendo. Esperamos que o negócio de energia eólica cresça mais rapidamente”, disse ao Valor o presidente mundial da Alstom, Patrick Kron. O executivo esteve no Brasil na semana passada quando reuniu com o novo presidente da filial brasileira, Marcos Costa, que assumiu o cargo no início deste mês.
A visita de Kron também se justifica pelo fato de o país estar ganhando mais importância dentro do portfólio de negócios da companhia francesa. A Alstom possui mais de R$ 2 bilhões em encomendas de obras em andamento no Brasil. “Durante décadas, as nossas encomendas provinham 60% da Europa Ocidental e América do Norte, e 40% do resto do mundo. Hoje, isso se inverteu”.
Dos € 20 bilhões de vendas anuais da empresa, metade é obtida em países desenvolvidos e metade em países em desenvolvimento. Segundo Kron, do faturamento, 50% são provenientes do setor de geração, 20% da área de transmissão de energia e 30% do negócio de transportes.
O executivo afirmou ser difícil prever o volume de investimentos para os próximos anos no Brasil. A decisão dependerá da quantidade e do valor de contratos que a empresa arrematar no futuro. Ele ressaltou, no entanto, que nos últimos quatro anos a companhia investiu R$ 200 milhões no Brasil e ampliou, de três para oito, o número de unidades de produção no país. A subsidiária brasileira possui hoje 5 mil funcionários.
O interesse pelo mercado brasileiro pode ser comprovado na decisão de instalar nova fábrica de equipamentos eólicos. O local já está definido e a companhia negocia os últimos acertos com o respectivo governo estadual. A unidade existente em Camaçari foi a primeira de aerogeradores da Alstom fora da Europa. “Foi uma decisão tomada em 2008, antes ainda do primeiro leilão de energia eólica”, lembrou Costa.
Na última semana, a companhia francesa assinou uma carta convite com a Casa dos Ventos para fornecer 68 aerogeradores aos parques eólicos da empresa em João Câmara (RN), que totalizam 180 MW de potência instalada. O contrato definitivo, avaliado em € 230 milhões, está previsto para ser assinado no fim deste mês. Caso a negociação seja concluída, será o quarto contrato da Alstom no mercado eólico brasileiro.
Segundo o executivo brasileiro, a companhia também quer reforçar sua presença na área de transmissão de energia. O foco são as subestações do sistema de transmissão para escoar a energia gerada em Belo Monte para os centros consumidores do Nordeste e Sudeste. As principais linhas de transmissão do sistema, de mais de 2 mil quilômetros de extensão, serão licitadas no próximo ano. A francesa também é responsável pela construção de subestações do chamado linhão da usinas do Madeira, que levará energia até Estado de São Paulo.
No setor de transportes, a Alston negocia com o governo do Estado do Rio uma área para construir vagões que vão atender o acordo firmado com a Supervia para fornecer 160 vagões até 2016. Já em 2013, a empresa francesa terá que entregar um vagão e está sendo avaliada a possibilidade de construir na nova fábrica, no Rio, em Deodoro. O investimento estimado é entre R$ 10 milhões e 12 milhões e deve criar 50 empregos diretos e 150 indiretos. A empresa informou apenas que “pretende desenvolver-se no Estado do Rio. Os projetos da Supervia representam grandes oportunidades e nos estamos trabalhando neles” e não quer dar informações adicionais até um acordo formal ou contrato ser firmado”.
Nessa área, a francesa busca um sócio brasileiro para compor o consórcio que vai disputar o leilão do projeto do trem de alta velocidade (TAV), o “trem-bala”, que ligará o Rio a São Paulo/Campinas. Já está praticamente acertada a participação da operadora ferroviária Societé Nationale dês Chemins de fer Français (SNCF).
Outro alvo são negócios de VLTs (veículos leves sobre trilhos) e composições de metrô, no Rio e em São Paulo. Os executivos da empresa apostam no aumento da demanda com os grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.