Apesar de ainda incipiente e das dúvidas sobre sua viabilidade, o mercado de sorgo no Brasil é o novo alvo da empresa americana de sementes NexSteppe. Em sua primeira temporada no país, a companhia comercializou cultivares em um volume capaz de cobrir 1,3 mil hectares nesta safra 2013/14.
As cultivares desenvolvidas pela NexSteppe, que foi criada há três anos, são baseadas em duas linhas: uma de híbridos com alto índice de biomassa para a produção de energia e outra com híbridos de sorgo sacarino, uma fonte de açúcar fermentável para a produção de etanol.
“O Brasil é o nosso mais importante mercado, muito mais que os EUA, porque possui muita infraestrutura já existente e tem sido líder em biocombustíveis por anos”, afirma Anna Rath, fundadora e CEO da NexSteppe. Antes disso, a executiva foi vice-presidente de desenvolvimento comercial da também americana – e hoje concorrente – Ceres, empresa que começará sua primeira operação comercial no país na safra 2014/15.
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No Brasil desde o fim de 2011, a NexSteppe inicialmente fez testes de campo em cinco áreas. Em 2012, estabeleceu sua sede administrativa em Campinas (SP) e montou uma estação de pesquisa em Rio Verde (GO), onde desenvolve linhagens e faz cruzamentos. Hoje, mantém 35 pontos de pesquisas espalhados pelo país, ainda que sua equipe fixa conte com apenas 11 funcionários.
A empresa aposta na possibilidade de o sorgo sacarino se tornar um complemento da cana durante a entressafra e no fato de que a demanda local por energia tem crescido rapidamente, o que abre espaço para o sorgo biomassa, também como complemento à fonte hidrelétrica.
A NexSteppe estima que seu sorgo biomassa rende de 50 a 55 toneladas por hectare de matéria verde com 50% de umidade, para queima direta em caldeiras. Quanto ao sorgo sacarino, testes em São Paulo e no sul de Goiás indicaram produção média de 2,5 mil litros de etanol por hectare. Em entrevista recente ao Valor, André Franco, CEO da Ceres no Brasil, afirmou que para ser viável, uma cultivar de sorgo sacarino teria que render, de maneira estável, de 2,5 mil a 3 mil litros por hectare.
A semeadura dos materiais da NexSteppe teve início em 30 de outubro e deve ser finalizada até 15 de dezembro, conforme Mauricio Barbosa, diretor de pesquisa e melhoramento da empresa. O plantio de sorgo é feito por sementes, e o da cana, por toletes, uma espécie de muda.
Conforme Barbosa, o mercado de sorgo sacarino não cresceu muito este ano porque a maioria das usinas tinha cana sobrando no campo, por isso o investimento em uma cultura complementar não fazia sentido nesta safra. Contudo, diz, as perspectivas são boas para 2014, “mesmo porque toda a estrutura utilizada, inclusive a industrial, é a mesma”.
Já o mercado de sorgo biomassa apresentou crescimento mais significativo, embalado pelos leilões de energia promovidos pelo governo. “As empresas têm olhado o sorgo como uma alternativa para escalonar a produção e ter matéria-prima disponível o ano todo”.
A empresa não revela seus custos de produção mas, segundo Anna, os clientes que fizeram testes comerciais relataram que a operação é “economicamente viável”, seja com plantio próprio ou terceirizando. “Se olharmos para o que temos no campo este ano, temos muita confiança de que alcançaremos rapidamente um aumento nas vendas”, afirma.