A austríaca Andritz Hydro, empresa de equipamentos para a geração de energia, traçou planos ambiciosos para o Brasil. A companhia busca atingir a liderança no setor neste ano ou, no máximo, em 2014. “Quem é líder no mundo tem expectativa de ser o primeiro no Brasil também”, disse Sérgio Parada, presidente da companhia no Brasil ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, ao apontar pesquisas internas da companhia que mostram o grupo no topo nos últimos anos.
No Brasil, a Andritz tem como principais concorrentes a alemã Voith Hydro e francesa Alstom. Parada mostra-se confiante em alcançar a meta. “Trabalhei 25 anos na Voith e consegui fazê-la líder de mercado [no país]. Fazer o mesmo com a Andritz não vai ser difícil.”
A empresa busca a liderança, sem se esquecer da rentabilidade, uma vez que a Andritz é aberta, listada na bolsa de Viena. “Queremos ser número um no Brasil, mas não a qualquer preço”. A estratégia é ser reconhecida como a fabricante que entrega equipamentos no prazo ou até com antecedência. “Nesse mercado, as diferenças de preços não são grandes. O fator determinante é ser confiável em prazo”.
A Andritz Hydro começou a atuar no Brasil em 2006, após a adquirir globalmente a Va Tech Hydro. Em 2008, a empresa realizou outra aquisição global – a divisão da General Electric (GE) de equipamentos para hidrelétricas. No país, o grupo entrou no lugar da GE na joint venture com a Inepar, com fábrica em Araraquara (SP). De acordo com Parada, houve, no início, problemas de execução em algumas obras herdadas, envolvendo companhias terceirizadas. Foi o caso da entrega de equipamentos para a usina São Salvador, no Tocantins, da Tractebel. Em 2009, a Andritz Hydro Inepar entregou equipamentos para a usina com três meses de atraso. “A relação com o cliente, àquela época, ficou estremecida”.
“Queremos deixar claro para o mercado que somos confiáveis [em prazo]”, disse. Segundo ele, após o problema com São Salvador, a empresa está revertendo sua imagem e cita a usina de Santo Antônio, no rio Madeira (RO). “A Andritz foi a única que conseguiu antecipar, de fato, suas máquinas em Santo Antônio. É realmente um desafio conseguir fazer uma hidrelétrica no prazo, considerando o volume de itens e os imprevistos”.
Focar em projetos de porte no Brasil e em países vizinhos atendidos pela unidade de Araraquara é também uma estratégia importante. Hoje, estão no radar da Andritz as usinas de Sinop e São Manoel, em Teles Pires (MT), respectivamente com 400 MW e 700 MW de potência e expectativa de serem leiloadas neste ano. “Só nesses projetos a gente estima contratos de mais de R$ 1 bilhão em equipamentos”.
A “menina dos olhos” do setor continua sendo a usina de São Luiz do Tapajós, que provavelmente será licitada em 2014. A usina, que ainda enfrenta barreiras ambientais, tem potência estimada de 6.133 MW. Se construída, será a quarta maior do país, atrás de Itaipu, Belo Monte e Tucuruí.
Os equipamentos para Tapajós serão fornecidos por um consórcio. O projeto é fundamental para a Andritz ultrapassar suas duas concorrentes. “Se duas ganharem [o fornecimento de Tapajós], a empresa que ficar de fora perderá posição.” Pelos cálculos da Andritz, a demanda por equipamentos dessa usina superará R$ 5 bilhões. Outro projeto importante são as usinas argentinas Presidente Néstor Kirchner e Governador Jorge Cepernic, no rio de Santa Cruz. Esse complexo de 1,8 mil MW de potência, contudo, tem encontrado dificuldades políticas e não tem data para ser licitado. “Se for para frente, o ano vai ser maravilhoso para nós.”
Entre os principais projetos que a Andritz participou recentemente, com fornecimento da subsidiária brasileira, estão as usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, que representaram, respectivamente, pedidos de R$ 1 bilhão, R$ 700 milhões e R$ 1,2 bilhão, segundo o presidente.
O faturamento global da Andritz Hydro foi de € 1,77 bilhão (cerca de R$ 4,8 bilhões), em 2011. Na América do Sul, região na qual o Brasil responde por mais de 90% do resultado, a receita representa um quarto do valor global, ou R$ 1,2 bilhão. As projeções para 2012 (o balanço não foi finalizado) indicam queda global da ordem de 10%, assim como em 2013, por causa da redução de projetos no Brasil e no mundo. Em 2014, com novos leilões, a expectativa é de retomada.