A oferta de crédito sem precedentes – com R$ 25 bilhões para cinco anos – ampliou o interesse dos produtores na construção de armazéns, mas trouxe uma dúvida crucial ao setor: qual a linha de corte da viabilidade? Juro baixo, prazo longo e projetos adaptados para a agricultura familiar aquecem a demanda. Mas há risco de estruturas modernas se tornarem deficitárias no longo prazo, apontam os especialistas.
O crédito consumido atualmente foi anunciado pelo governo federal há quatro meses no Plano Agrícola e Pecuário 2013/14 (PAP). Para esta temporada, foram disponibilizados R$ 5 bilhões, dos quais um terço já tem destino definido. Só as cooperativas do Paraná solicitaram R$ 600 milhões e tentam ficar com R$ 1,5 bilhão até 2015. O prazo de pagamento é de 15 anos e o juro de 3,5% ao ano, uma taxa que, diante da inflação atual, pode ser considerada negativa.
A euforia promete aumentar o faturamento das empresas que constroem armazéns de 20% a 30% neste ano, afirma João Tadeu Franco Vino, coordenador do grupo de armazenagem da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Houve um aumento nas solicitações de orçamento e fechamos mais pedidos financiados”, aponta o executivo, que é superintendente comercial da Kepler Weber.
O lançamento de modelos para áreas entre 50 e 100 hectares estimula o mercado, conforme Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico da Federação de Agricultura do Paraná (Faep). “Existem modelos com capacidade menor, entre 1,8 mil sacas e 8 mil sacas, que se tornam viáveis para esses produtores”, sustenta. O custo das menores unidades é de R$ 110 mil e pode chegar a R$ 274 mil nas maiores.
No entanto, o aconselhável é que a estrutura tenha um “tombo” de uma vez e meia a duas vezes, aponta o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti. Ou seja, um armazém de 10 mil sacas deve receber de 15 mil a 20 mil por ano.
Apesar da queda nos custos financeiros, a avaliação dos produtores precisa ser criteriosa, defende Alcemir Chiodelli, conselheiro da Associação Brasileira de Pós-Colheita de Grãos (Abrapós). “O custo de conservação dos grãos é elevado e exige um conhecimento técnico que nem todos os produtores possuem”, avalia. Ele lembra que em muitos casos a operação dos equipamentos exige mão de obra especializada. “Além disso, é necessário ter capacidade de pagamento e garantias para dar à instituição financeira”, acrescenta.
Quem mantém a colheita na propriedade nem sempre consegue preços melhores, lembra Mafioletti. “Há casos em que o preço na safra acaba sendo mais alto do que na entressafra, como foi o caso do milho neste ano.” O aumento na oferta do cereal fez com que o produto se desvalorizasse.
Quem está considerando todos esses elementos chega a uma avaliação clara de viabilidade. O agricultor Luiz Octavio Bannach Rolim fez as contas e decidiu investir R$ 1 milhão em uma estrutura de armazenagem e secagem de grãos. Ele poderá guardar 25% de sua produção anual e acredita em retorno suficiente para quitar o armazém antes dos dez anos previstos no contrato de financiamento. A estrutura em finalização deve ser usada imediatamente para guardar trigo e, em 2014, para a soja, milho e feijão. Se a estratégia der certo, pretendem ampliar gradualmente a capacidade de armazenagem e arrendar a estrutura em caso de ociosidade.
Indústria entra em fase de ouro – O incentivo governamental para a construção de armazéns abriu uma fase de expansão na indústria. Na Granfinale, de Castro (Campos Gerais), as operações da fábrica estão na capacidade máxima, relata o diretor comercial Paulo Bestolini. “Contratamos mais funcionários e eles estão fazendo horas extras. A projeção é de 25% de crescimento nas vendas [de 2012 para 2013]”, aponta.
A Perfipar, que tem fábrica em Rolândia (Norte), também confirma a demanda reprimida. “A reação [às novas linhas de crédito do governo] foi rápida e houve um aumento nas solicitações de orçamento”, relata Paulo Valle, diretor comercial da Perfipar. Ele relata que o efeito sobre o faturamento demora um pouco mais, pois as negociações para a venda podem chegar a nove meses.
João Tadeu Franco Vino, superintendente comercial da Kepler Weber, lembra que o interesse dos agricultores começou a aumentar no ano passado, quanto a linha de crédito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) oferecia juros de 2,5% ao ano, mas o volume de recursos era limitado.
As cooperativas estão entre os principais clientes da indústria de armazéns. “A armazenagem é uma atividade meio. Esse investimento tem o objetivo de favorecer o processo de agroindustrialização das cooperativas”, aponta Robson Mafioletti, assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná.