A Índia superou a Austrália e se tornou o sétimo maior país exportador de produtos agropecuários do mundo em 2013, de acordo com levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Em 2003, os indianos ocupavam a 13ª posição nesse ranking.
O salto, segundo o órgão americano, foi turbinado por subsídios e resultou de um incremento de 21,3% ao ano na década, o maior em um grupo de grandes exportadores que inclui o Brasil. Puxada pela soja em grão, a taxa média anual de crescimento das exportações brasileiras do setor no intervalo foi de 14,9%.
Segundo o USDA, os embarques da Índia renderam mais de US$ 39 bilhões no ano passado, ante menos de US$ 5 bilhões dez anos antes. O superávit do país no setor cresceu cerca de dez vezes no intervalo, para quase US$ 20 bilhões, e as vendas continuam aquecidas. Neste ano, suas exportações de carne de búfalo já aumentaram 18%, enquanto as de trigo cresceram 75%. A Índia também se tornou um “player” de peso nos mercados de arroz, açúcar, e algodão. Também cresceram suas fatias nas exportações de farelo de soja e milho.
No caso da carne de búfalo, os embarques indianos só perdem, em 2013 e neste ano, para as vendas de carne bovina do Brasil. Segundo o USDA, a carne de búfalo da Índia tem preços muito competitivos. Mas, no caso de produtos como arroz e trigo, o órgão americano realça que o desempenho do país foi impulsionado por subsídios. Conforme estimativas, o apoio oficial indiano para a agricultura aumentou de US$ 68 bilhões, em 2009-2010, para US$ 85 bilhões em 2013-2014.
O governo indiano compra arroz e trigo diretamente dos agricultores por meio de uma política de preços mínimos que tem por objetivo formar estoques por razões de segurança alimentar. Em seis anos, o preço mínimo em vigor no país para o arroz aumentou 75%, enquanto o do trigo subiu 40%. Os produtos são vendidos a preços mais baixos no mercado doméstico.
Essa política fez a produção se expandir. De um lado, não há armazéns suficientes para os estoques e parte dos produtos fica a céu aberto, estragando. De outro, as exportações aumentaram, a preços competitivos. Em 2013, a Índia se tornou o maior fornecedor agrícola para os países mais pobres do planeta, com vendas de US$ 5 bilhões, ou US$ 1 bilhão a mais que a União Europeia, o segundo maior exportador para esses mercados.
Conforme o USDA, nos últimos cinco anos os embarques agrícolas indianos para os países mais pobres aumentaram mais que o dobro da taxa da Indonésia – 314% contra 133%. A questão, agora, é que países como o vizinho Paquistão reclamam que a política de segurança alimentar indiana gera insegurança alimentar em outros países.
Na semana passada, o ministro de Comércio de Ruanda, François Kanimba, ilustrou essa situação afirmando ao “Financial Times” que os importadores de seu país compravam alimentos da Índia, como açúcar e arroz, a preços muito baixos. E que isso afetava o produtor local e complicava os esforços domésticos para construir sua própria segurança alimentar.
As cifras do USDA devem alimentar queixas de alguns parceiros na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a postura atual da Índia na entidade.
Sozinha, a Índia bloqueou, em julho, o acordo de facilitação de comércio negociado em dezembro de 2013 em Bali (Indonésia). O país insiste que antes seja encontrada também uma solução para os subsídios destinados à formação de estoques para segurança alimentar.
Este mês, os países iniciaram consultas para tentar superar o impasse, mas na segunda-feira houve um novo confronto entre Índia e EUA. O problema, segundo fontes, é que a tática indiana até agora sempre foi de pedir mais. A interpretação de importantes parceiros é que o governo do primeiro-ministro Narendra Modi quer carta branca para subsidiar à vontade a compra de estoques de arroz e de trigo via política de preços mínimos, despejando os excedentes no mercado internacional e afetando as exportações de outros países.
A Índia quer adotar essa estratégia sem risco de ser questionada na OMC, diz um importante negociador. Se não conseguir, parece disposta a paralisar todo o resto das negociações. Para vários parceiros, porém, o preço dessa carta branca é caro demais.
Nesta terça-feira, Modi estará na Casa Branca com o presidente Barack Obama e a expectativa pelo menos de parte da imprensa indiana é que pode haver uma “reconciliação” na área comercial. Hoje, na OMC, porém, a Índia disse que sua posição não mudou. E os EUA reagiram, dizendo que enquanto o acordo de facilitação de comércio estiver bloqueado, nada mais avança.