As indústrias eletrointensivas pretendem investir cerca de R$ 3,4 bilhões na construção de novos parques eólicos com capacidade para gerar até 1.000 megawatts (MW) de energia. O interesse é especialmente grande entre seis empresas: Alcoa, Camargo Corrêa Cimentos, CSN, MPX, Vale e Votorantim. Todas elas já iniciaram estudos sobre o tema.
Os investimentos devem ocorrer até 2020, segundo a Abiape, associação que representa os autoprodutores de energia elétrica, um grupo de 11 pesos-pesados da indústria. O planejamento das empresas que produzem energia para consumo próprio indica a intenção de ampliar a capacidade em 6 mil MW, por meio de diversas fontes. Um sexto disso seria por meio das eólicas, alternativa até então ignorada pelos grandes da indústria pesada.
Com pequenas mudanças regulatórias, os autoprodutores estão dispostos a “avançar nos planos”, diz Mário Menel, presidente da Abiape. O barateamento da energia eólica já permite à indústria pensar em grandes investimentos no setor, “inclusive como alternativa à dificuldade para implantar usinas hidrelétricas”, diz Menel.
A entrada das indústrias eletrointensivas na geração eólica pode marcar a quarta etapa de desenvolvimento da energia pelos ventos. Na primeira etapa, no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, a criação do Proinfa deu um impulso às fontes alternativas, por meio de subsídios. Mas os preços se mantinham altos e havia pouca atratividade para novos projetos.
No fim de 2009, após insistentes pedidos do setor, o governo fez um leilão exclusivo para usinas eólicas. Isso foi o segundo paradigma de seu desenvolvimento, com queda superior a 20% nos preços. O terceiro salto veio neste ano, quando o leilão de energia realizado em agosto demonstrou o rompimento de uma barreira: o megawatt-hora da energia eólica (em torno de R$ 99) ficou mais barato que o das térmicas a gás.
Fornecedores estrangeiros de equipamentos passaram a deslocar parte de sua produção, com baixa demanda nos países ricos, para o Brasil. Isso ajudou a derrubar os preços. “Mas o ganho tecnológico foi brutal nos últimos anos”, diz Élbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). O investimento necessário para 1 MW de nova capacidade instalada, segundo ela, caiu de R$ 7 milhões no início do Proinfa para os R$ 3,4 milhões atuais. Baseados nessa estimativa, os autoprodutores calculam seus investimentos em cerca de R$ 3,4 bilhões até 2020.
Esse grupo de indústrias, que fatura R$ 223 bilhões por ano, já possui um parque gerador de 7.045 MW em operação. Mas amargou oito anos sem novos projetos. As licitações de hidrelétricas privilegiaram a contratação de energia pelas distribuidoras – o chamado “mercado cativo”. A estagnação só foi superada recentemente, com a entrada da Vale na sociedade de Belo Monte, com 9% de participação – o equivalente a 1.011 MW.
Diante da queda de preços e das dificuldades em viabilizar novos projetos, embora tenha obtido permissão do Ministério de Minas e Energia para ficar com até 20% das hidrelétricas que serão leiloadas em dezembro, os autoprodutores resolveram entrar também nas eólicas.
Menel sublinha, no entanto, uma dificuldade que as indústrias poderão enfrentar: as usinas eólicas geram energia apenas quando há vento, o que pode não coincidir com os períodos de pico da produção industrial. Para se blindar contra essa sazonalidade, os autoprodutores sugerem uma espécie de compensação: colocam a energia no sistema interligado, sempre que houver ventos suficientes, e depois retiram do sistema – quando necessário – a mesma quantidade de energia, sem pagar a mais por isso, não importando a fonte.
A Abeeólica apresentará oficialmente essa proposta a autoridades do setor elétrico, na próxima semana. “Um dos desafios da geração eólica agora é entrar no mercado livre de energia”, diz Élbia Melo. Menel lembra a necessidade dos autoprodutores: hoje esse grupo de indústrias têm 5.657 MW médios de carga, que deve subir para 10.110 MW médios em 2020. “Temos que olhar todas as possibilidades.”