A multinacional alemã Basf anunciou ontem que vai concentrar as suas atividades de biotecnologia vegetal nas Américas do Norte e do Sul. A decisão se deve à resistência do mercado europeu – onde está sediada a divisão Plant Science, de biotecnologia – em aceitar os produtos geneticamente modificados.
Segundo a empresa, haverá um “reajuste de portfólio”, de modo a refletir essa mudança. A sede da Plant Science será transferida de Limburgerhof, na Alemanha, para Raleigh, na Carolina do Norte (EUA). As atividades de pesquisa e desenvolvimento se concentrarão, principalmente, em Raleigh (EUA), Ghent (Bélgica) e Berlim (Alemanha).
“Estamos convencidos de que a biotecnologia vegetal é uma tecnologia-chave para o Século XXI. No entanto, ainda há pouca aceitação dessa tecnologia em muitos locais da Europa – por parte da maioria dos consumidores, agricultores e políticos”, afirmou Stefan Marcinowski, membro da Junta Diretiva Mundial da Basf e responsável pela biotecnologia vegetal na empresa, em nota à imprensa. “Portanto, do ponto de vista de negócio, não faz sentido continuar os investimentos em produtos que são cultivados exclusivamente neste mercado. Vamos nos concentrar nos mercados atrativos para a biotecnologia vegetal na América do Norte, na América do Sul, bem como mercados em crescimento na Ásia”, acrescentou.
De acordo com a empresa, 123 funcionários da Alemanha serão transferidos imediatamente para outras unidades da Plant Science, e outros 140 demitidos ao longo dos próximos meses nas unidades de biotecnologia da Alemanha e da Suécia.
O desenvolvimento e comercialização dos produtos voltados exclusivamente para o cultivo no mercado europeu serão interrompidos – somente os processos de regulamentação que já foram iniciados terão continuidade. Assim, a empresa suspendeu o desenvolvimento das batatas com amido geneticamente modificado, da batata resistente à requeima, chamada Fortuna, e de uma variedade de trigo, resistente a doenças fúngicas.
O portfólio da Basf Plant Science continuará focado em projetos nas áreas de alta produtividade e resistência ao estresse hídrico. A multinacional alemã já trabalha em parceria com a Monsanto para as culturas do milho, soja, algodão, canola e trigo. No fim de 2011, foi aprovado para cultivo nos EUA o primeiro produto fruto dessa parceria, um milho tolerante à seca.
“Não houve um gatilho, algo que acontecesse e fizesse a empresa tomar essa decisão”, disse ao Valor Luiz Louzano, diretor de biotecnologia da Basf Plant Science para América Latina, explicando que a transferência da sede pegou de surpresa, de certa forma, alguns funcionários. “Mas houve um endurecimento nos últimos dois anos em relação à aceitação dos transgênicos e à disfuncionalidade da regulamentação para cultivo de transgênicos na Europa. Não há previsão para nenhuma aprovação. Os prazos da Basf estavam se esgotando”, afirmou o executivo.
No Brasil, onde tem mais de seis mil colaboradores, a variedade de soja Cultivance®, desenvolvida em parceria com a Embrapa, foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio).