O que na década passada era considerado descarte e um problema ambiental para a Usina Santo Antônio – a sobra do bagaço da cana de açúcar -, tornou-se lucro com a geração da bioeletricidade. Energia elétrica limpa, sustentável e renovável que alimenta e reforça, no período de alta demanda e baixa oferta de transmissão, o parque industrial da usina, que fica localizada no município de São Luís do Quitunde, em Alagoas, e a rede de transmissão que distribui eletricidade para as cidades do litoral norte.
A indústria é qualificada agora como sucroenergética e não mais como sucroalcooleira, devido à capacidade de cogeração da tríplice produção: açúcar, álcool e energia elétrica. O grupo da usina Santo Antônio investiu, em 2001 – pico da crise energética do país, o chamado “Apagão” -, cerca de R$ 15 milhões para se transformar em usina sucroenergética e, assim, poder cogerar biomassa da cana-de-açúcar, energia elétrica limpa e renovável, suficiente para manter a indústria em funcionamento e ainda vender a força sobressalente para a Eletrobras Distribuição Alagoas.
“Com o “Apagão”, em 2006, o preço da eletricidade subiu e o governo federal incentivou a busca de fontes alternativas. Assim, foram estabelecidas políticas de crédito e garantia da compra da força por um contrato de 20 anos que vai gerar R$ 400 milhões para empresa. Algo totalmente agregador e rentável”, conta o superintendente da sucroenergética, Cláudio Soares Cavalcante.
Atualmente, com a biomassa da cana-de-açúcar, produto que era descartado no campo, a indústria consegue gerar durante seis meses, período da safra, 25 megawatts, dos quais 12 são consumidos dentro da indústria para movimentar os maquinários e 13 são vendidos para Eletrobras.
“A energia sobressalente repassada para o sistema da Eletrobras é suficiente para abastecer com tranquilidade uma cidade com até 100 mil habitantes. E essa energia abastece diretamente duas cidades, São Luís do Quitunde e Matriz do Camaragibe nos períodos mais críticos do ano, no verão, quando a geração de energia por água diminui. Todo ano a Eletrobras liga para saber se vamos conseguir fornecer energia elétrica pelos seis meses”, completa Cláudio Cavalcante, ao estimar que a venda da energia da biomassa corresponde a 5% do lucro da indústria.
Retorno financeiro – A rentabilidade é comprovada, na prática, diante da conjuntura mundial que preza pela economia aliada ao desenvolvimento sustentável. A exemplo da usina Santo Antônio, até 2001, o bagaço da cana era tratado como rejeito. Durante esse período, para não ficar com um grande volume de bagaço espalhado pelo parque industrial, a usina vendia parte das toneladas da matéria prima para empresas que fazem papel, aglutinados para fornalhas e produtores de gado. O restante era espalhado pelo campo.
À época, o valor pela tonelada não ultrapassava os R$ 15. Hoje, com a mesma tonelada de biomassa, a empresa consegue produzir cerca de 60 kw/h e tem uma média de R$ 50 de lucro com a venda da energia limpa. Um aumento de quase 300% pelo mesmo volume do resíduo.
Ao explicar a transformação da biomassa em energia elétrica, o engenheiro elétrico da empresa, Josinaldo Cavalcante, expõe que o terceiro produto da sucroenergética é relativamente tão rentável quanto o açúcar e o álcool.
“É um processo rentável porque a cogeração também melhorou o desempenho produtivo da usina. Até porque a empresa passou de consumidora para geradora de energia, em um processo que a deixou autossuficiente diante da redução de custos e do aumento da arrecadação. E o melhor é que tudo foi feito de forma limpa, com baixo impacto ambiental”, expôs Josinaldo Cavalcante.