Com a grande procura pelo biogás Brasil afora, também há outras expectativas quanto aos modelos de negócio relacionados ao biometano. Dentre as diversas empresas focadas no desenvolvimento da fonte e as aplicações voltadas para a evolução sustentável de processos em todas as escalas de produção, a MDC, uma das associadas do CIBiogás, surge como uma das pioneiras na produção de biometano no Brasil. A MDC nasceu com o propósito de oferecer soluções energéticas completas, sustentáveis e de baixo carbono para auxiliar na transição energética de indústrias e organizações que buscam ter uma matriz mais limpa.
A crise hídrica vem ameaçando a distribuição de energia no país, e o biogás pode ser uma das alternativas renováveis que se destaca em relação às hidrelétricas. Melina Uchida, da área de novos negócios da MDC, comenta que a crise aumentou a procura por outras fontes energéticas e consequentemente o biometano também começou a ser buscado por novos públicos, ainda que a demanda já estivesse se intensificando com a nova onda verde.
É importante que o Brasil explore bem todas as opções de energia renovável disponíveis em seu território, e o biometano é uma delas.
O que é essencial em um modelo de negócio com biometano?
Para que um projeto viável com biometano tenha bons resultados, é necessário que alguns pontos sejam enaltecidos como essenciais no desenvolvimento da ideia, visto que a eficiência de um projeto, só acontece após uma série de ações que prezam pelo funcionamento esperado de um modelo de negócio.
Mesmo que o biometano seja regulamentado pela ANP há bastante tempo (desde 2015 para biometano produzido a partir de resíduos agrossilvopastoris, e desde 2017 para biometano produzido a partir de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto), de acordo com a MDC, iniciativa ainda é relativamente nova no mercado, e ainda precisa de um suporte para que seja viabilizada em grande escala efetivamente, visto que, atualmente, apenas quatro plantas de biometano foram instaladas no Brasil.
Assim como no planejamento de mercado em relação a outras energias renováveis, as prioridades são as mesmas: garantir viabilidade técnica e econômica. O Brasil é destaque no quesito “pluralidade de matriz energética” e com a abundância de biomassa, isso fica cada vez mais evidente, porém, o custo das plantas de biometano ainda é muito elevado, apesar da tecnologia para a produção do gás está consolidado e da garantia da viabilidade técnica -que motivam a criação de novos arranjos-.
Mesmo que existam certas adversidades econômicas, atualmente existem linhas de financiamento focadas em iniciativas sustentáveis que deixam o cenário um pouco mais otimista. Melina Uchida reitera que uma das maiores dificuldades quanto ao mercado de biometano está em garantir a venda do produto pelo preço e prazo que deem segurança para o investidor.
Políticas públicas como leilões específicos para compra de biometano, incentivos tarifários para injeção em gasoduto e consumo de biometano pelo setor privado e público, entre outros, podem oferecer segurança para que novos investimentos sejam feitos no desenvolvimento desse mercado até que ele tenha robustez suficiente para andar sozinho.
O biometano é um grande aliado nesses processos de descarbonização, visto que existem ainda poucas alternativas sustentáveis de energia térmica que sejam viáveis em território nacional, sendo essas apenas a biomassa e o biometano.
Quando falamos de gás veicular, o biometano também se sobressai, sendo a única alternativa sustentável, além de ter uma das menores pegadas de carbono entre as fontes já exploradas – chegando a ter emissão negativa quando todo o ciclo de vida é levado em consideração. Sendo assim, é fato destacarmos o uso do biometano como um protagonista na substituição de combustíveis fósseis, capaz de reduzir a pegada de carbono provocada pelas indústrias e zerando as emissões desse meio.
Apesar dos aspectos positivos da matriz energética no Brasil, nos aterros sanitários o gás produzido ainda é lançado à atmosfera sem tratamento, gerando ainda mais poluição, tal como acontece com a decomposição de resíduos orgânicos quando ignorados como passivos ambientais. O metano gerado nesses processos, em comparação com o gás carbônico, é 25 vezes mais nocivo ao planeta, sendo um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global, revela a MDC.
Quando há a possibilidade de evitar o lançamento desse gás tão prejudicial à vida do planeta através da produção e distribuição justa do biometano há também um grande impacto na redução do efeito estufa, degradação do meio ambiente e qualidade de vida do ser humano.
Biometano dentro da indústria
Com a pandemia da COVID-19, houve uma intensificação na implementação de boas práticas socioambientais nas organizações, portanto, a MDC espera que a demanda pelo biometano como biocombustível venha se desenvolvendo ao longo dos anos, uma vez uma das vantagens da fonte é ser intercambiável ao gás natural, e pode ser utilizado nas indústrias, veículos e casas que já utilizam o gás comum, tudo isso sem qualquer mudança de infraestrutura. Desta maneira, o biometano, alinhado às ações Ambientais, Sociais e de Governança (ASG) tem posição de destaque e irá ganhar cada vez mais espaço frente aos combustíveis fósseis.
Modelos de negócio com biometano
Os projetos lançados pela MDC, além de contribuir para a redução dos gases, também geram créditos de carbono reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e créditos de descarbonização emitidos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP – Renovabio). Anualmente, as plantas de biometano evitam a emissão de 610.000 toneladas para GNRF e 76.000 toneladas para Dois Arcos através dos projetos inseridos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Melina Uchida, destaca o pioneirismo da instituição e como um de seus projetos tem grande impacto no suprimento de gás natural no Ceará.
Nossa primeira planta de biometano, localizada em São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro, entrou em operação no ano de 2014, 3 anos antes do biocombustível ser regulamentado pela ANP, em 2017. Nossa segunda planta de biometano, localizada na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará, iniciou suas operações no ano de 2017 e é a única a injetar biometano em gasoduto, além de ter sido a primeira produtora de biometano certificada pelo programa RenovaBio. Atualmente, essa unidade é responsável por suprir cerca de 20% de toda demanda de gás natural do estado do Ceará.
Através dos subsídiária da Ecometano, a empresa atua desde 2010 para gerar valor sustentável a partir do tratamento de passivos ambientais de aterros sanitários e agroindústrias, transformando-os em ativos energéticos sustentáveis e competitivos.