O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai limitar o crédito mais barato e a prazos maiores aos setores de infraestrutura, às empresas intensivas em capital e aos projetos que tragam inovação tecnológica. Os outros setores, notadamente o de serviços e os voltados ao comércio exterior, passarão a arcar com custo de financiamento maior – o banco captará recursos no mercado e repassará parte desse custo aos tomadores.
“Essas são as três grandes orientações”, informou, em entrevista ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Segundo ele, a compra de máquinas e equipamentos continuará sendo apoiada pelo crédito barato do banco, para não prejudicar a taxa de investimento da economia.
“Nas outras áreas, poderemos modular a oferta de forma que ela possa ser complementada pelo mercado. Se o empreendedor quiser, ofereceremos um pedaço a custo de mercado. Vai ficar mais caro em relação ao crédito para infraestrutura, mas não mais caro em relação ao mercado”, assegurou.
As mudanças atendem à necessidade de redução da dependência das empresas dos recursos subsidiados do BNDES e, consequentemente, de diminuição dos aportes do Tesouro Nacional ao banco, uma agenda que vem sendo trabalhada por Coutinho desde 2008, quando os repasses da União começaram a crescer de forma mais rápida em resposta ao aumento da demanda das empresas por investimentos – desde então, a instituição recebeu R$ 300,25 bilhões do Tesouro e, ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou novo repasse, de cerca de R$ 20 bilhões, até dezembro.
Coutinho e sua equipe trabalham na criação de mecanismos para estimular a captação de recursos pelas empresas no mercado de capitais. Uma das ideias é baratear o custo de financiamento das companhias que lançarem debêntures, em operações casadas com a tomada de crédito no BNDES. O banco está disposto, inclusive, a comprar uma parcela desses papéis, com o objetivo de estimular outros investidores a fazerem o mesmo. Pretende, ainda, compartilhar as garantias das operações de crédito com as debêntures, uma forma de tornar esse tipo de investimento mais seguro e, portanto, mais atrativo.
O presidente do BNDES assegurou que o banco estatal não perdeu “um centavo” com a debacle das empresas de Eike Batista. Dos R$ 6 bilhões emprestados, apenas R$ 500 milhões remanescem em uma empresa do grupo, mas estão garantidos por fiança bancária.