A capital brasileira foi eleita nesta quarta-feira, 26 de fevereiro, por 23 governadores do Conselho Mundial da Água para sediar o Fórum Mundial da Água, em 2018. Esse é o maior evento em recursos hídricos do planeta. Na última edição, um público estimado de 35 mil pessoas compareceram à cidade francesa de Marselha. A escolha demonstra a importância do Brasil na preservação e conservação dos recursos hídricos.
Precisamos nos preparar para mostrar o que o país faz quanto à gestão desse recurso natural e sua eficiência de uso. E nenhuma atividade terá papel mais preponderante do que a agropecuária.
De acordo com o último relatório “Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil”, da Agência Nacional de Águas, a vazão de água efetivamente consumida no país, que representa 51% da vazão retirada, mostrou que 72% corresponderam à demanda de irrigação e 11% da dessedentação animal, portanto, 83% do consumo de água, tendo como referência o ano de 2010, se deu pelas atividades agropecuárias. A grandeza desses números aliada a uma generalizada falta de conhecimento de como os alimentos são produzidos é e continuará sendo constante motivo de conflito.
A realização do Fórum no Brasil exigirá que nos preparemos, não só em termos organizacionais, mas na geração de informações e conhecimentos que nos possibilitem ser atores principais, subsidiando decisões e demonstrando quais práticas, processos e tecnologias propiciam as melhores eficiências e produtividades hídricas.
Para que o setor agropecuário brasileiro e as atividades agropecuárias tenham papel de destaque no evento, algumas ações devem ser iniciadas:
ü que as instituições ligadas a agropecuária (associações, pesquisa, ensino e empresas) tenham assento na Comissão Organizadora e subsidiem na elaboração de programas/atividades que promovam discussões/decisões relacionadas ao tema;
ü que os vários atores das cadeias agropecuárias iniciem ações, planejadas em conjunto, tendo dois objetivos: organizar as informações disponíveis sobre o uso da água na agropecuária brasileira e gerar informações que não dispomos e que se mostrem fundamentais para melhoria da gestão do recurso;
ü a partir das informações organizadas e geradas, propor, monitorar e validar boas práticas hídricas para melhor eficiência de uso do recurso;
ü estabelecer indicadores de desempenho e eficiência hídrica para cada tipo de prática com o objetivo de validá-la e subsidiar a tomada de decisão durante o Fórum.
A mais importante de todas as ações e mais difícil de ser implementada é a mudança cultural. Mudarmos a cultura de entender a relação da água com a agropecuária como o uso de um recurso abundante, infinito e de custo econômico e ambiental baixos. Se até 2018 conseguirmos mudar essa cultura, ou seja, internalizar o manejo hídrico nas cadeias produtivas agropecuárias, teremos muito que mostrar e orgulho de produzir alimentos com segurança hídrica.
Em tempos de Copa do Mundo de Futebol podemos dizer que a bola está conosco. Essa é uma bola diferente, redonda, mas com predomínio da cor azul. Atende pelo apelido de Planeta Água e dependemos dela para tudo que imaginarmos. Não há produção de alimentos sem água!
Capacitação
Nos dias 20 e 21 de março, a Embrapa Pecuária Sudeste realiza o III Simpósio em Produção Animal e Recursos Hídricos (III SPARH) na cidade de São Carlos (SP). Palestrantes do Brasil, Alemanha e Chile vão abordar temas relacionados aos recursos hídricos, como pegada hídrica, tecnologias de tratamento de resíduos e efluentes, custo da água e experiências internacionais em manejo hídrico.
As inscrições podem ser feitas até 14 de março. A programação completa e mais informações sobre o evento podem ser obtidas em http://www.cppse.embrapa.br/III-sparh.
Julio Cesar P Palhares
Pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste