O Brasil será o primeiro país do mundo no qual empresas e produtores rurais poderão calcular suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e criar metas de redução de forma confiável.
Nessa quinta-feira (29) o World Resources Institute (WRI) lança em São Paulo o primeiro guia para cálculo de emissões na agropecuária e ferramenta do GHG Protocol Agropecuário. Desenvolvida nos dois últimos anos em parceria com Embrapa e Unicamp, a ferramenta já está sendo testada e utilizada por grandes empresas como Bunge, JBS e AMaggi.
“O Brasil como grande país agroexportador tem agora à sua disposição instrumentos para apoiar seus empresários a planejar ações para redução de emissões de gases de efeito estufa”, afirma Rachel Biderman, diretora do WRI Brasil. “Eles serão mais competitivos num mercado cada vez mais exigente, que quer sustentabilidade na produção de alimentos”, prevê.
O GHG Protocol do WRI já é a metodologia mais utilizada em diversos países para mensurar, monitorar e produzir relatórios de emissões de GEE na indústria. Mais de 120 empresas usam o GHG Protocol no Brasil para divulgar anualmente inventários de emissões do setor industrial.
Globalmente, 17% das emissões são provenientes do setor agropecuário. E o Brasil, com o segundo maior rebanho bovino do mundo e uma agricultura capaz de alimentar um bilhão de pessoas, experimentou um crescimento de 45% nas emissões do setor entre 1990 e 2012.
Segundo Marcio Nappo, diretor de Sustentabilidade da JBS, quinta maior empresa do país, o desenvolvimento de uma ferramenta adaptada à realidade brasileira vai garantir a consistência e a precisão dos cálculos de emissão do setor agrícola e do agronegócio como um todo.
A utilização da ferramenta de cálculo de emissões possibilitará também que as empresas façam a gestão e reduções de suas emissões, assim como de sua cadeia de fornecedores: “Esta iniciativa é extremamente importante para identificar as emissões e reduções de emissões relacionadas à cadeia de fornecimento, visto que a JBS possui um cadastro de mais de 60 mil fornecedores de gado distribuídos em diferentes biomas brasileiros”.
O pesquisador da Embrapa Eduardo Assad, ex-Secretário de Mudanças Climáticas, explica que “com a redução do desmatamento na Amazônia, as emissões de gases de efeito estufa da agricultura tomaram uma grande dimensão no Inventário Nacional”. A agropecuária já responde por 32% de todas as emissões no país – o quinto maior em emissões de GEE do planeta.
A adoção da ferramenta de cálculo, de acordo com Assad, será um passo para a certificação dos produtos brasileiros, permitindo até reduzir futuras imposições de barreiras ambientais não tarifárias. “Nosso produtos poderão ficar mais competitivos e com selo ambiental. O mundo caminha nessa direção e este é o primeiro GHG Protocol para a Agropecuária. Uma imensa oportunidade para a agricultura brasileira, principalmente a de baixa emissão de carbono”.
Biderman ressalta que nem só empresas serão treinadas para usar a ferramenta de cálculo. “Produtores rurais também poderão receber treinamento e utilizar a ferramenta, o que pode impulsionar o projeto de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) do governo federal”. A plataforma e a metodologia do GHG Protocol Agropecuário são livres e gratuitas, como no GHG Protocol.