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Bioenergia

Cai o interesse por energia de bagaço de cana

O BNDES tem hoje em carteira apenas um projeto de cogeração. Nos leilões do mercado regulado, onde se negociam 75% da eletricidade consumida no país, os preços médios caíram 10% em 2012.

No momento em que o país discute a segurança energética e os preços da energia batem recordes no mercado livre, o interesse de usinas sucroalcooleiras por investimentos em cogeração com bagaço de cana-de-açúcar se apresenta entre os mais baixos dos últimos anos.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o principal financiador desse tipo de negócio no país, tem hoje em carteira apenas dois projetos de cogeração – um deles, da Adecoagro, anunciado ontem (ver texto abaixo) . Nos leilões do mercado regulado, onde se negocia cerca de 75% da eletricidade consumida no país, os preços médios caíram 10% em 2012, o que ajudou a minar de vez o interesse já arranhado do investidor.

O chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Carlos Eduardo Cavalcanti, conta que, em 2012, a instituição tinha em carteira quatro projetos dessa natureza, o que já era um número baixo, se comparado à demanda de anos anteriores. No entanto, depois dos preços baixos praticados no último leilão, no fim do ano, três deles comunicaram ao banco a desistência de seguir em frente.

Realizado em dezembro de 2012, o único leilão regulado do ano passado teve a inscrição de dez projetos de biomassa. Nenhum deles vendeu energia devido ao preço médio baixo, de R$ 91,25 Megawatt/hora (MWh), uma queda de 10,74% em relação ao preço médio de 2011, que já foi baixo, explica o sócio da consultoria FG Agro, Cláudio Barreira.

Em 2008, quando foram feitos os primeiros leilões exclusivos para negociação de energia de biomassa, o preço médio atingiu R$ 152,92 o MW/h, segundo a consultoria. Esse valor veio recuando até chegar, em 2011, à média de R$ 102,23 o MW/h, abaixo do custo de investir nessa energia, na casa dos R$ 130 a R$ 140 por MW/h – no caso das ampliações a partir de uma unidade de cogeração já existente, os chamados “retrofits”.

Dessa forma, os desembolsos do BNDES para projetos dessa natureza voltaram a recuar em 2012. Foram concedidos R$ 700 milhões para cogeração no ano passado, 18% menos do que em 2011, quando as liberações já haviam caído 41% em relação a 2010. “Não há sinais de que esse desinteresse possa se reverter de forma significativa em 2013”, diz Cavalcanti.

Entre 2006 e 2011, o BNDES chegou a financiar 110 plantas de cogeração, uma média anual de 18 projetos – 52 retrofits (2 mil MW) e 58 “greenfields” (1,6 mil MW). Juntos, eles somavam uma potência instalada de 3,6 mil MW, o suficiente para abastecer por um ano uma cidade com 7 milhões de habitantes.

Os preços recordes da energia negociada no mercado livre, que chegaram a bater R$ 500 o MW/h em janeiro, estão viabilizando alguns investimentos em unidades retrofit, mas são casos pontuais. Segundo o sócio da FG Agro, Luiz Gustavo Correa, fora dos leilões regulados, cujos contratos são de 15 anos de duração, é possível fazer vendas de prazo de cerca de três anos a R$ 120 o MW/h (energia incentivada, ou seja, de projetos com potência máxima de 30 MW). Mas ele pondera que esse tipo de negócio só traz retorno se o projeto demandar investimento mais baixo do que a média por alguma razão particular da usina, como por exemplo, pouca necessidade de investimento em conexão (linha e subestação).

A capacidade instalada ligada à rede de energia do Brasil ainda é marginal quando comparada ao seu potencial, explica Correa. “Dos 6,487 mil MW médios que usinas de cana do Brasil têm potencial para produzir, apenas 792 MW médios estão interligados ao sistema elétrico nacional. Os 5,695 mil MW restantes equivalem a mais de duas vezes uma usina hidrelétrica do porte de Jirau”, diz o especialista.