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Economia

China pede mais agilidade para investir

Xu Yingzhen, do Ministério do Comércio, disse que o Brasil é um dos parceiros prioritários da China, mas pediu para o governo brasileiro fazer um esforço para diminuir burocracia.

China pede mais agilidade para investir

A China calcula que vai importar mais de US$ 10 trilhões em mercadorias e investir acima de US$ 500 bilhões no exterior nos próximos cinco anos pelo projeto Sonho Chinês, que visa impulsionar reformas e abertura ao exterior. Com essas cifras na mão, Xu Yingzhen, representante do Ministério do Comércio, reiterou que o Brasil é um dos parceiros prioritários da China, mas pediu para o governo brasileiro fazer um esforço afim de diminuir burocracia e agilizar a entrada de investimentos chineses.

Wei Guixian, vice-secretário do departamento de finança internacional do Banco de Desenvolvimento da China (BDC), anunciou que o banco colocou o Brasil como uma de suas prioridades para cooperação com empresários, governos e instituições financeiras. Uma espécie de BNDES, o BDC tem US$ 1,3 trilhão em ativos, vê oportunidades em projetos de infraestrutura, produção e processamento de produtos agrícolas.

Uma fonte que trabalha com empresas chinesas disse que a procura cresce para entrar no Brasil. “Empresas chinesas querem parceiro brasileiro que lhes facilite o acesso ao país, e o que pedem é que o parceiro tenha interlocução no governo. Eles são até um pouco esnobes, insistem que dinheiro não é problema e recebem recursos com juros de apenas 2% ‘, afirmou a fonte.

“A China está abundante em capital”, tratou de repetir Wan Wen, diretor do Eximbank num encontro do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), na sexta-feira em Pequim. No debate, a sala dividiu-se em dois lados. De um, empresas brasileiras, sobretudo interessadas em vender para a China. De outro, companhias chinesas que exportam, mas também querem investir no país.

Na parte da “discussão livre”, para que as empresas dos dois lados expressassem francamente seus apelos e sugestões, houve o silêncio do lado brasileiro, interpretado como se tudo estivesse bem para elas. Já o lado chinês, de forma coreografada, praticamente seguiu a ordem dos assentos na primeira fila para apontar dificuldades no Brasil, de protecionismo no comércio e investimento até falta de segurança no Rio de Janeiro.

A State Grid, maior empresa pública do mundo, e que diz já ser a quinta maior operadora de transmissão do Brasil, cobrou facilidades prometidas para a ida de empresas chinesas ao Brasil. A Chery, maior fabricante de veículos independente da China, reclamou de falta de transparência na regulação sobre IPI e até de infraestrutura perto da fabrica que está construindo em Jacareí (SP).

A China Minmetals tambem disse enfrentar “dificuldades administrativas e políticas e muita investigação antidumping também”. Uma empresa de seguros aconselhou o Brasil a ser mais aberto, numa situação curiosa, vinda de um país longe da economia de mercado e caracterizado pela proteção de sua economia.

O Banco Comercial e Industrial da China (BCIC) reclamou que esperou dois anos para receber autorização de instalação no Brasil, dizendo que isso foi um recorde para abrir agência no exterior. O presidente do CEBC pelo lado brasileiro, Sergio Amaral, retrucou que, de fato, dois anos de espera era um absurdo e que o Banco do Brasil está há quatro anos esperando na fila para obter licença para instalar uma agência em Xangai.

Falando excelente português, Chen Duginq, ex-embaixador da China no Brasil, disse que ‘ todos sabem que chinês está querendo ir para o Brasil, mas o Brasil tem muito a fazer para aumentar a ida de companhias chinesas’.

Para ele, até agora “há muito trovão e pouca chuva” nas declarações oficiais para captar fluxos chineses. “Empresa chinesa acaba se assustando com empecilhos”. Deu o exemplo mais repetido pelas companhias em Pequim: “Para entrar no Brasil, primeiro tem que resolver problema de visto de permanência. Sem isso não tem CPF, sem CPF não abre conta no banco e sem conta não faz nada”. A Minmetals relatou que teve funcionário mandado de volta do aeroporto no Brasil. Na prática, o problema é que os chineses querem mandar trabalhador para o Brasil, como faz na África, e Brasília recusa.

A ministra-conselheira da Embaixada do Brasil, Tatiana Rosito, de forma hábil respondeu que os vistos de negócios são concedidos em no máximo cinco dias úteis. E o que demora é visto de trabalho, que tem de ser dado pelo Ministério do Trabalho.

Tatiana também apontou algumas assimetrias: empresários brasileiros instalados na China precisam renovar o visto todo ano, enquanto no Brasil os chineses têm prazos maiores. Enquanto o Brasil dá visto de negócios de 90 dias, de múltiplas entradas. os brasileiros em geral recebem visto de 30 dias e de uma entrada apenas na China.

Duginq sugeriu ao Brasil implantar mecanismo especial para os que realmente querem investir, lembrando que na China, emergente que mais capta Investimento Estrangeiro Direto (IED), existe balcão único em muitas regiões para atender investidores. “Aqui em uma semana o investidor tem resposta. No Brasil demora muito”, disse.

Ao encerrar o debate, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ricardo Schaefer, elogiou a “franqueza dos chineses”. Lembrou que escutou em sua estada na China reclamação de protecionismo pelo lado chinês, e preocupação do lado brasileiro pela quebra de contratos na China, sem dar exemplos.

Para participantes, apesar de todos os problemas, a relação bilateral tende a se tornar cada vez mais importante. A meta de dobrar o comércio bilateral até US$ 150 bilhões não parece alimentar dúvidas. E os investimentos não serão apenas chineses no Brasil, mas também de empresas brasileiras na China, na medida em que a abertura chinesa se confirmar após a reforma que o PC chinês promete fazer após sua plenária, que termina amanhã.