Se o apagão, em 2001, deixou como herança para o Brasil uma rede de termelétricas – fonte energética considerada cara -, a atual crise hídrica tende a deixar como legado mais investimentos em energia eólica, solar e de biomassa. Só a eólica deve dobrar a oferta em poucos meses.
Empresas buscam nessas fontes formas de se precaver de futuras secas, que tendem a se tornar mais frequentes com as mudanças climáticas, e veem a água como alvo de debates e perdendo espaço na geração energética.
“O uso da água vai ser analisado a partir de suas prioridades, como consumo humano e animal, deixando a geração elétrica em segundo plano”, afirmou Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABsolar).
Para Luiz Serrano, sócio e diretor da RZK Energia, o custo elevado decorrente da crise hídrica será um grande acelerador para as decisões de investimento nessas fontes. O preço do megawatt/hora (MWh) no mercado spot passou de R$ 300, em março, para os atuais R$ 520.
Isso ainda deve se refletir na conta de luz dos consumidores residenciais na revisão tarifária anual, mas já impacta os grandes consumidores que não tinham energia contratada:
“O investimento em autoprodução por parte de empresas que são grandes consumidoras deve ficar mais nítido no segundo semestre”, afirma Serrano.
Parceria com Reino Unido
Neste cenário, energias ainda mais disruptivas, como a eólica offshore (com campos marinhos) e o hidrogênio verde, que ainda são promessas no país, devem ganhar velocidade. E um dos maiores incentivadores é o governo britânico.
Simon Wood, cônsul-geral do Reino Unido no Brasil, afirma que a implementação global da eólica offshore deveria estar sendo feita em uma velocidade quatro vezes maior. Ele acredita que o Brasil, com uma costa marítima tão ampla, tem grande potencial, ainda que precise superar alguns problemas regulatórios e de financiamento.
“Embora se trate de uma questão ambiental, a transição energética cada vez mais é uma questão econômica também. É cada vez mais barato produzir energia a partir de eólicas offshore do que de derivados de petróleo. Temos muitas parcerias com o Brasil, inclusive na questão do financiamento. E já temos até cooperações municipais, como entre as cidades de Aberdeen, no Reino Unido, e Macaé, no Rio”, conta Wood.
O cônsul-geral espera mais parcerias em hidrogênio verde e energia solar — que, no chuvoso Reino Unido, têm o dobro de participação na matriz energética total que no Brasil.