O próximo governo deve ser o maior beneficiado com os investimentos decorrentes do programa de concessões no país. Levantamento da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, obtido com exclusividade pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, mostra que o pico dos investimentos em infraestrutura se concentra entre 2015 e 2017, somando R$ 299,2 bilhões. O grosso, conforme os cálculos da secretaria, desses recursos já está contratado e se refere a obras licitadas e algumas poucas que ainda serão. Esse é o caso de rodovias, mas que na avaliação do governo, sairão do papel.
Em 2011, quando a presidente Dilma Rousseff assumiu o governo, os investimentos oriundos de concessões somavam R$ 54,1 bilhões. Com a decisão de repassar para as mãos da iniciativa privada mais empreendimentos para contornar a falta de recursos públicos, esses desembolsos saltaram para R$ 74 bilhões em 2013. Para este ano, as concessões devem injetar na economia R$ 86,6 bilhões, subindo para R$ 93,3 bilhões em 2015; R$ 102 bilhões em 2016 e R$ 103,9 bilhões em 2017.
“O levantamento é conservador e mostra que todo esforço que foi feito até agora está resultando em aumento substancial dos investimentos de infraestrutura”, disse o secretário de Acompanhamento Econômico (Seae), Pablo Fonseca. “É uma estimativa de quanto vai ser efetivamente investido em projetos que já estão contratados e alguns que ainda vão ser”, acrescentou. No caso das rodovias, foram incluídos os investimentos como os da BR-060 e BR-163.
Ele considera a projeção subestimada porque não contempla, apesar de ter participação de recursos federais, investimentos feitos por Estados e municípios com mobilidade urbana e água e saneamento básico, assim como em petróleo e gás. Fonseca explicou que o levantamento inclui todas as concessões em infraestrutura, concentradas em três áreas: logística (rodovias, aeroportos, portos e ferrovias), energia (transmissão e geração) e telecomunicações.
“De 2014 a 2017, esperamos desembolso de quase R$ 400 bilhões de investimento, sendo R$ 114 bilhões em logística, R$ 151 bilhões em energia e R$ 119,5 bilhões em telecomunicações. Em telecomunicações, não incluímos os investimentos associados à licitação do 4G, que está para acontecer porque esse é um levantamento conservador”, diz Fonseca.
Conforme o levantamento, os investimentos crescem, principalmente, nas obras de logística, ou seja, rodovias, aeroportos, portos e ferrovias. A destinação de recursos privados para essa área era de R$ 7,8 bilhões em 2011, mas saltou para R$ 15,6 bilhões em 2013 e deve praticamente dobrar em 2017, ao totalizar R$ 32,8 bilhões. Foi justamente neste setor que houve críticas de analistas privados sobre a falta de negociação do governo com o investidores sobre as regras do jogo, o que teria causado atrasos na realização dos leilões.
“Essa discussão está superada [críticas à falta de negociação sobre as regras]. E a tendência agora é só crescer [o investimento]. Essa discussão foi em logística que é onde que mais cresce [o investimento]”, destacou Fonseca. Ele ressaltou que a imagem do país não foi arranhada pelo episódio e que os investidores estrangeiros têm demonstrado muito interesse pelo Brasil. “Em dezembro estive na Ásia e agora no Oriente Médio e a avaliação é de que há muito interesse no Brasil. A imagem é muito menos negativa do que possa se pensar”, disse.
A melhoria da infraestrutura tem sido um dos principais desafios do governo e é fundamental para retomar o crescimento econômico sustentável do país. Por enquanto, não há dados oficiais sobre o impacto desses investimentos de concessões na expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Mas um relatório do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, divulgado aos clientes em meados de maio, estima que, em 2018, esses investimentos contribuiriam para um aumento de 2,3 pontos percentuais da taxa de formação bruta de capital fixo (FBCF) do país.
No fim de 2013, a taxa de investimento representava 18,4% do PIB. No primeiro trimestre deste ano, esse porcentual desacelerou para 17,7%. Para este ano, a secretaria projeta que investimentos em concessões de R$ 86,6 bilhões. “O efeito direto [na economia] você já vê. De fato, o efeito indireto, que é a estrada duplicada e bem sinalizada, redução de tempo que gasta no aeroporto, ferrovia com capacidade mais adequada, desenrola ao longo de mais tempo e ele é bem mais difícil de medir”, disse o secretário.
Fonseca reforçou que, conforme levantamento da Seae, os investimentos em logística terão um crescimento de 192% entre 2011 e 2014, passando de R$ 7,8 bilhões para R$ 22,8 bilhões neste ano, chegando em R$ 32,8 bilhões em 2017. “Dá totalidade dos investimentos, a expectativa é de crescimento de 60% entre 2011 e 2014 e boa parte disso vem justamente em logística, em que concentramos nossos esforços”, conclui.