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Economia

Consumo puxa recuperação da economia no quarto trimestre de 2011

A economia brasileira entrou em recuperação no quarto trimestre de 2011. Consumo deve se manter como motor da economia em 2012.

Consumo puxa recuperação da economia no quarto trimestre de 2011

A economia brasileira entrou em recuperação no quarto trimestre de 2011, puxada novamente pelo consumo, mas ainda com queda na indústria e investimentos contidos. O Produto Interno Bruto cresceu 0,3% no período e 2,7% no ano passado.

A demanda das famílias mostrou forte reação, com aumento da renda, da ocupação e do desmonte das medidas de controle da demanda. A indústria foi atingida pelo câmbio valorizado e pela crise externa, fatores que continuam ativos e capazes de impedir que o setor tenha maior participação na retomada.

Com a indústria de transformação enfraquecida, o avanço dos investimentos tende a ser menos vigoroso. A expectativa dos economistas é que os setores de infraestrutura e construção puxem os investimentos no Brasil nos próximos anos. “Mas não há como dizer que essas áreas compensarão a perda de fôlego da indústria”, diz o economista-chefe do BanifInvest, Mauro Schneider.

O PIB terá um crescimento expressivo, de 5,5% a 6% no fim do ano, prevê Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos. “É um ritmo até superior ao que a economia aguenta”. O BC tem espaço para reduzir mais um pouco a taxa de juros, dos atuais 10,5% para 9,5% ao ano, mas não deve avançar muito mais no ciclo de corte da Selic, sob o risco de aquecer demais a atividade econômica, afirma. Ele projeta crescimento médio de 3,5% no ano.

Consumo deve se manter como motor da economia em 2012

A retomada do consumo das famílias no último trimestre de 2011 foi importante para impedir nova estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) no período e deve continuar a puxar a economia nos primeiros trimestres deste ano. Os economistas esperam alta entre 0,7% e 1% para o PIB do primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado.

Para uma parte dos economistas, o consumo será, de novo, o principal vetor de crescimento no início e ao longo de 2012, o que pode exigir mais atenção da política monetária. No entanto, outros analistas consultados pelo Valor avaliam que, se a intenção é ter atividade mais robusta neste ano, não é possível depender apenas da demanda das famílias e do dia a dia das empresas – é necessário que o investimento entre na conta.

No terceiro trimestre, o consumo das famílias caiu 0,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, feitos os ajustes sazonais, como resultado do aperto de crédito promovido pelo Banco Central (BC) com a implementação de medidas macroprudenciais no fim de 2010 e alta da taxa básica de juros no início de 2011.

Com a reversão de parte dessas medidas e estímulos adicionais como a desoneração tributária de itens da linha branca, no quarto trimestre este componente voltou a registrar forte alta de 1,1%. Para Fernanda Consorte, economista do Santander, no primeiro trimestre do ano continuará a ser visível a liderança do serviços e do consumo no crescimento da economia, período para o qual ela espera alta de 0,8% do PIB em relação aos últimos três meses de 2011.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, enxerga uma dinâmica diferente ao longo do ano. Para ele, o crescimento será sustentado pelo consumo nos primeiros meses do ano, mas não vai se acelerar para uma alta superior a 5% porque o incentivo à demanda por parte das famílias esbarra em alguns limites, como a expectativa de menor crescimento da massa salarial, já que a taxa de desemprego está em níveis muito baixos, e o aumento do endividamento, por exemplo.

Além disso, sustenta ele, o crescimento de 4,1% do consumo das famílias no ano passado deixa evidente que uma parte considerável da demanda não foi atendida pela produção doméstica. O PIB industrial subiu 1,6% em 2011 e a indústria de transformação quase não cresceu, com alta de apenas 0,1%.

Por isso, argumenta Lima Gonçalves, estímulos adicionais ao consumo não devem ser considerados uma saída alternativa para adicionar dinamismo à economia doméstica em 2012. “Não acho possível crescer 1% por trimestre com base em serviços e consumo. Diante do câmbio atual, com o real valorizado, as importações vão aumentar, mas não haverá acréscimo dos pedidos por bens produzidos internamente”, afirma.

O economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall, considera que a retomada da economia será lenta ao longo de 2012 e também sugere que a capacidade de consumo adicional por parte das famílias está próxima de um esgotamento. “As medidas macroprudenciais foram importantes para conter a demanda no ano passado, mas estamos em um momento em que o endividamento encostou no teto e o comprometimento da renda está aumentando. É uma ressaca do crédito à pessoa física que se expandiu com vigor nos últimos anos”, afirmou.

Para ele, a qualidade do crescimento preocupa. Apesar do aumento da demanda, bens comercializáveis têm sido substituídos por importados, o que provoca a estagnação da produção industrial. No caso do setor de serviços, em que não há essa possibilidade, o crescimento é menos volátil e contribui para sustentar o produto pela ótica da oferta.

Em 2011, o consumo das famílias cresceu 4,1% frente a 2010, acima da alta de 2,7% do PIB. Segundo o coordenador de contas nacionais do IBGE, Roberto Olinto, o que sustentou a alta na demanda das famílias foram as elevações na massa salarial real e no saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para pessoas físicas.