O esperado leilão do governo para energia solar não aconteceu no ano passado como esperado, mas não foi motivo para desanimar o setor que aguarda ansiosamente por seu anúncio. “Uma hora dessas acontece”, diz Mathias Becker, diretor da Renova Energia, braço do grupo Cemig para a geração de energia renovável, controlada pela Light e pela RR Participações. Becker tem o firme propósito de transformar a Renova em líder na geração de energia solar no Brasil, similar ao bom desempenho alcançado com a eólica, cuja capacidade é de 1 gigawatt (GW) em parques instalados no Nordeste.
Para Becker, o potencial dessa fonte de geração de energia, capaz de transformar a luz do sol em eletricidade por meio de painéis fotovoltaicos, começou a receber seu devido valor há algum tempo. Importância que, por sinal, foi avaliada pela Associação das Empresas de Energias Renováveis (Abeer) ao estimar uma capacidade de 400 megawatts (MW) instalada até 2020. Esse potencial de geração significa a criação de um mercado estimado em R$ 3,2 bilhões. Pode parecer pouco, perto de outras fontes (até 2016 todas as usinas eólicas instaladas até 2016 somarão 8 mil MW e a hidrelétrica Itaipu tem 14 mil MW de potência), mas é um começo.
Para assumir a liderança, Becker comenta que desde 2011 a Renova compra dados de irradiação solar (temperatura e frequência da luz em dado local) de uma área arrendada de 150 km no sudoeste da Bahia, onde estão sendo construídos os parques. Essas medições vêm sendo feitas por agências de pesquisa espacial nas últimas décadas em várias regiões do país. Porém, a empresa também está fazendo suas próprias avaliações, com equipamentos instalados no nível do solo, por que têm capacidade de produzir dados mais precisos. Essa é forma encontrada pela empresa para se prevenir de uma possível exigência do futuro leilão.
É certo que o maior obstáculo para a expansão da energia solar é a falta de competitidade frente a outras fontes. Nas estimativas da consultoria Eficiência Energética, o custo da megawatt-hora (MW/h) varia de R$ 330 a R$ 450, enquanto o valor da eólica é de R$100 e da hidrelétrica de R$ 80 por MW/h. Mesmo assim, o diretor da Renova prefere não perder o otimismo. Especialmente agora, depois da recente decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que passou a permitir que estabelecimentos comerciais e residências possam investir em sistemas de geração de energia solar para serem conectados à rede de transmissão e não apenas para abastecimento próprio. Com isso, consumidores poderão se transformar em fornecedores de energia.
Quem compartilha do mesmo entusiasmo em relação a o mercado de painéis fotovoltaicos é Sérgio Marques, presidente da Bioenergy, tradicional empresa na área de energia renovável. Há uma década, a Bioenergy atua em parques eólicos no Rio Grande do Norte, com capacidade de 30 MW. Há três anos, Marques investiu R$ 6 milhões em plantas de energia solar na Bahia e Minas Gerais, com capacidade de 1 MW, e que poderá entrar em operação já no primeiro semestre deste ano.
O empresário avalia que os investimentos da Bioenergy nessa área podem somar R$ 20 milhões até ser atingido os 3 MW de potência almejados. No seu modo de ver, as perspectivas nessa área são muito boas, com custos mais baixos. Segundo ele, sua empresa já consegue produzir energia solar por R$ 250 o MW/h. No entanto, Marques não poupa críticas ao país. “O Brasil está marcando passo”, diz. Ele se refere à clássica comparação com a Alemanha, maior produtor mundial de energia solar. Suas usinas são capazes de gerar 27,7 mil MW, quase o dobro da potência instalada a hidrelétrica de Itaipu.
Percalços à parte, Miguel Saad, presidente da CPFL Renováveis prevê maior sucesso para a geração dessa fonte de energia em pouco tempo. Para atender à aguardada demanda, a companhia investe cerca de R$ 40 milhões em projetos de pesquisa. Entre eles estão a viabilidade de conjugar usinas solares com outras fontes de energia, como a eólica, a biomassa (a partir do processamento do bagaço de cana-de-açúcar), o gás natural e a célula combustível (tipo de bateria para armazenar energia). Outro que tem merecido uma especial atenção da companhia é a usina na subestação Tanquinho, em Campinas (SP). Ela poderá gerar, em três anos, 1,6 GW/hora por ano, o suficiente para abastecer mensalmente 657 residências.
Apostando nesse futuro que acena ser promissor está a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) com investimentos expressivos na área de energia solar. No fim do ano passado, a companhia assinou com o Banco de Desenvolvimento da Alemanha, o Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), um contrato de financiamento de 10 milhões de euros para a implantação das usinas solares fotovoltaicas em arenas desportivas, como os estádios do Mineirão (1,42 MW) e Mineirinho (1,1 MW), para a Copa das Confederações, que será realizada neste ano, e a Copa do Mundo, em 2014. Outro projeto é a Usina Experimental de Geração Solar Fotovoltaica, com capacidade de 3 MW – equivalente ao fornecimento de energia de mil residências – que pode entrar em operação n o segundo semestre deste ano. A usina instalada no município de Sete Lagoas conta com investimento avaliado em R$ 40 milhões.