O número de cooperativas que fornecem apenas crédito rural no Brasil caiu 11,3% na comparação entre 2012 e 2011. Há dois anos, eram 291. No ano passado, 258. A informação foi apresentada pelo Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), com base em dados do Banco Central. A instituição realizou, nesta terça-feira (12/11), um encontro com jornalistas, em Brasília (DF).
Os números se referem apenas às chamadas cooperativas singulares, também chamadas de primeiro nível. Segundo o diretor de apoio a negócios do Sicoob, Abelardo Duarte de Melo Sobrinho, a queda tem a ver com uma migração de atividades. As instituições deixam de atuar exclusivamente com crédito rural e passam ser constituídas como livre admissão, podendo atuar em outras modalidades de crédito.
No mesmo período, as cooperativas de livre admissão cresceram 10,2%, passando de 256 para 282. A participação nas operações passou de 54,5% em 2011 para 57,5% em 2012 enquanto nas cooperativas exclusivamente rurais caiu de 10,9% para 9% no período.
“Quando era só crédito rural, a atuação era setorial e restrita ao calendário do setor. Com a ampliação, há um melhor gerenciamento dos recursos, que ficavam ociosos durante períodos de entressafra”, disse ele.
Sobrinho destacou que a mudança no modo de atuação das cooperativas não significa deixar de lado o crédito rural. “É uma forma de mitigarmos riscos”, disse ele, ressaltando que recursos obtidos em outras modalidades podem, inclusive, reforçar a atuação no meio rural.
O diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), Ênio Meinen, ressaltou que as cooperativas de crédito representam 13% dos financiamentos de custeio do agronegócio no Brasil.
Explicou, no entanto, que há uma mudança de conceito no segmento, antes associado essencialmente a pequenas quantias essencialmente a produtores rurais. “Hoje há um cooperativismo financeiro, com produtos e serviços para atender ao associado como um todo.”
O diretor do Bancoob destacou também que ainda há um desconhecimento a respeito do cooperativismo financeiro no Brasil, o que leva associados a procurar serviços em bancos tradicionais. Para ele, a solução está em melhor divulgação dessa diversidade de atividades.
Meinen defendeu também um aperfeiçoamento da legislação brasileira relacionada ao cooperativismo. Embora reconheça que houve avanços, ele afirmou que, entre as reivindicações, estão acesso a recursos como os do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e Fundo Constitucional do Centro-Oeste (FCO), adequações tributárias.
“Há uma resistência, mas ela não deve se manter por muito tempo. Já há um movimento que entende que há um esgotamento do setor público na concessão de crédito, que pode abrir portas para as cooperativas terem acesso. É pressão, argumento e mobilização”, disse.