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Economia

Copa força empresas brasileiras, como Marfrig e JBS, a antecipar captações

A realização da Copa estimulou grandes empresas a captarem recursos no exterior. Como o evento vai reduzir o número de dias úteis e deve diminuir a atenção dos investidores, um banco e quatro empresas decidiram se antecipar nesta semana, levantando US$ 5 bilhões em captações externas.

Copa força empresas brasileiras, como Marfrig e JBS, a antecipar captações

Vai ter Copa. Por causa disso, companhias brasileiras se apressaram para acessar o mercado internacional de dívida antes do início da competição. Só nesta semana, foram captados US$ 5 bilhões e o volume pode ultrapassar US$ 6 bilhões se uma operação em andamento da Rioprevidência for concluída.

Desde segunda-feira, o Banco do Brasil (BB), os frigoríficos Marfrig e JBS, o conglomerado industrial Votorantim Participações e o Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), do setor sucroalcooleiro, fizeram emissões de bônus.

Além de reduzir o número de dias úteis no país, a competição tem o potencial de dispersar a atenção dos investidores. “A Copa não vai parar as emissões, mas claro que é mais fácil fazer [uma operação] fora da Copa”, afirma Alexei Remizov, diretor de mercado de capitais do HSBC.

Como as condições estão boas para captar, quem está pronto não tem por que esperar. Há muita liquidez no mercado e os custos continuam atraentes. O rendimento dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) de dez anos, referência para as captações, fecharam ontem a 2,648% ao ano. A expectativa dos investidores era que, a esta altura, as taxas estivessem mais altas. A tendência de subida nos próximos meses, entretanto, se mantém.

Além disso, houve uma redução na percepção de risco do país nos últimos meses. “O spread de risco do Brasil caiu bastante, então ficou bem mais favorável em termos de custo”, diz Remizov. “O mercado de renda fixa está em um momento muito bom”.

A maior e mais complexa dessa leva de operações foi feita ontem pelo BB. O banco captou US$ 2,5 bilhões por meio de uma emissão de bônus subordinados perpétuos. Os títulos, lançados com cupom de 9% ao ano, são elegíveis a compor o capital de nível 1 da instituição sob as regras de Basileia 3. Foi a maior captação já feita nessa modalidade por um banco de país emergente e empata com as maiores entre as instituições financeiras de todo o mundo.

A demanda dos investidores pelos títulos do BB chegou a US$ 12,3 bilhões, o que permitiu ao banco captar mais que o planejado e a um custo melhor. Ainda assim, os bônus foram colocados com spread de 636,2 pontos-base sobre os títulos do Tesouro americano, maior que o prêmio de 439,8 pontos pago em operação semelhante feita pelo banco em janeiro do ano passado. “São momentos muito diferentes de mercado”, diz José Maurício Coelho, diretor de finanças da instituição.

Segundo Coelho, os recursos serão usados para compor o caixa do banco. Quando forem chancelados pelo Banco Central, os novos papéis elevarão a taxa de capital nível 1 do BB de 9,93% para 10,6% considerando o balanço da instituição referente a março. O índice de Basileia (medida da capacidade de alavancagem) deve subir de 13,84% para 14,51%.

Para compor o capital complementar do BB, os bônus têm cláusula que prevê o cancelamento dos títulos se o capital principal do banco cair abaixo de 5,125%.

Remizov, do HSBC, afirma que a operação faz parte da estratégia de capital do banco no médio prazo. Segundo ele, embora a instituição já tenha bastante capital de nível 1, resolveu aproveitar a boa onda do mercado. “Foi um bom momento para fazer.”

Para Rodrigo Fittipaldi, diretor de mercado de capitais do BNP Paribas, a forte demanda mostrou que os investidores têm confiança na estratégia do BB. O banco tem um planejamento de três anos, que vai ajustando conforme a necessidade.

BB Securities, HSBC, BNP Paribas, Citi, J.P. Morgan e Standard Chartered foram os coordenadores da emissão do Banco do Brasil.

Além do BB, também foram precificadas ontem ofertas de bônus do JBS e do grupo Votorantim. Nos dois casos, o objetivo era levantar recursos para recomprar bônus mais antigos, sem aumentar o endividamento dessas companhias. A Marfrig já havia captado na véspera com a mesma finalidade.

Refinanciar passivos também foi o objetivo do Grupo Virgolino de Oliveira ao emitir US$ 135 milhões em bônus nesta semana, em uma operação que conta com garantias reais. Com o dinheiro, a empresa vai quitar empréstimos bancários.

A emissão do Virgolino mostra que o mercado está aberto, inclusive, para companhias com perfil de crédito mais arriscado. “O apetite dos investidores está muito bom”, diz uma fonte que acompanhou de perto a oferta.

Essa disposição também ficou evidente na captação de US$ 400 milhões feita pela Odebrecht Óleo e Gás por meio de bônus perpétuos. A demanda pelos papéis chegou a US$ 6,5 bilhões. Porém, como a empresa não precisava de mais recursos, aproveitou para reduzir o custo. O cupom ficou em 7% ao ano.

Para hoje, ainda é aguardada a conclusão de uma captação de US$ 1 bilhão do Rioprevidência, fundo de pensão dos servidores do Estado do Rio de Janeiro. A emissão será lastreada na antecipação de royalties do petróleo e terá prazo de dez anos.

As operações fechadas nesta semana mostram que há forte interesse dos investidores por diferentes tipos de papel. “Tanto emissões curtas como de longo prazo. Há também muito apetite para risco”, afirma Remizov, do HSBC.

Isso significa que continua havendo espaço para companhias que quiserem acessar o mercado de dívida externa mesmo durante a Copa. Embora a disposição das empresas para competir com as estrelas do futebol mundial seja pequena, existe liquidez.

No entanto, o mais provável é que haja um arrefecimento das captações durante o Mundial, afirma o diretor de renda fixa para a América Latina da gestora INTL FCStone, Carlos Gribel.

Quando a competição acabar, em meados de julho, haverá um curto intervalo antes das férias de verão do Hemisfério Norte, que tradicionalmente paralisam o mercado. “Depois, vêm as eleições, que podem trazer bastante volatilidade no segundo semestre”, destaca Gribel.