No momento em que os mercados emergentes passam por turbulência, atestada pela venda em escala mundial de ativos desses países, o governo estuda medidas para diferenciar o Brasil. A principal delas é o fortalecimento das contas públicas por meio do aumento da meta de superávit primário para 2% do PIB.
O plano é contingenciar de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em despesas previstas no Orçamento Geral da União e produzir esforço primário de R$ 80 bilhões neste ano, equivalentes a 1,5% do PIB. O restante do superávit seria feito por Estados e municípios. Como estes não têm obrigação legal, o governo estaria disposto a cobrir a diferença, mesmo que não esteja mais legalmente obrigado a fazê-lo.
Os números ainda são preliminares, mas um esboço da proposta já foi entregue à presidente Dilma Rousseff, que anunciará em fevereiro os cortes no Orçamento e a meta de superávit. Na sexta-feira, em discurso no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, a presidente se comprometeu com o cumprimento de uma meta suficiente para reduzir o endividamento da União como proporção do PIB.
Ontem, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, procurou distinguir o Brasil de outros emergentes. Disse que o país tem dado resposta “bastante clássica” aos efeitos da redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos: aperto da política monetária e uso das reservas internacionais como “amortecedor” de variações cambiais. De acordo com ele, os outros emergentes também terão de elevar os juros, embora alguns ainda possam estar “relutantes”.
“Ajustes de preços relativos não deveriam ser confundidos com fragilidade”, declarou Tombini ao jornal “Financial Times”, acrescentando que, se necessário, “certamente” o BC elevará novamente a taxa de juros.
Além da Argentina, que enfrenta crise cambial, o foco das atenções no mercado internacional ontem foi a Turquia, cujo banco central convocou, para hoje, reunião extraordinária para definir a nova taxa de juros. Desde maio do ano passado, a lira turca perdeu 21,5% de seu valor frente ao dólar. A expectativa é que a taxa, que está em 7,75% ao ano, suba entre dois e três pontos percentuais, podendo superar, em termos nominais, o juro brasileiro, de 10,5%.