A queda do investimento no Brasil não é apenas conjuntural e resultado da crise econômica. O país vem se tornando um lugar cada vez mais caro para investir, reduzindo a capacidade do Brasil de atrair novos projetos. Estudo feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) coloca o Brasil em 13º lugar num ranking do preço do investimento (mais caro) em 54 países.
O custo aqui é mais elevado do que o de concorrentes diretos como os Tigres Asiáticos e de emergentes como Índia, Rússia, Africa do Sul e México, mas abrir uma fábrica no Brasil chega a ser mais caro do que nos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido.
“O Brasil ficou caro em relação a outros países. Num contexto em que as empresas operam cadeias produtivas globais e escolhem onde vão se instalar, os investidores olham o Brasil e decidem ir para outro lugar” explica Cristina Reis, consultora do Iedi no estudo.
O que se observa no caso brasileiro é que o preço do investimento cresceu de forma muito mais acelerada a partir de 2003. Até 2000, o Brasil ocupava a 39ª posição no ranking, superando China, Índia, Rússia e asiáticos como a Malásia e a Indonésia, mas ainda muito distante de países desenvolvidos. Em 2010 esse quadro já havia mudado e o Brasil estava entre os mais caros do mundo para se investir.
“A resposta provável é o aumento de demanda frente a limitações de oferta” explica Cristina Reis. O aumento da renda puxado pela política de reajuste do salário mínimo bem acima da inflação e a expansão da chamada classe média fortaleceram o mercado consumidor nacional. Mas a política de estímulo ao consumo não foi combinada com aumento de investimentos.
“Houve um descompasso. Talvez uma crença excessiva de que apenas o mercado consumidor de massa daria conta [de manter o crescimento econômico]”, diz o professor Mauro Thury de Vieira Sá, da Universidade Federal do Amazonas e consultor no estudo.
A comparação internacional é feita a partir da “Penn World Table”, uma base de dados da Universidade da Pensilvânia (EUA), que reúne informações econômicas de diversos países que podem ser comparadas entre si. Os pesquisadores do Iedi avaliaram a evolução do custo da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – medida do que o país gasta em máquinas e equipamentos e em obras de construção – mais a variação de estoques para estimar o custo total do investimento até 2010.
Em 2003, a formação bruta de capital fixo no Brasil foi o equivalente a 15,3% do PIB, percentual mais baixo desde a estabilização da economia. O pico ocorreu em 2010, quando esse indicador chegou a 19,5% do PIB, percentual que caiu para 18,1% do PIB no ano passado. Durante todo esse período, a curva mostra altos e baixos, mas não um crescimento consistente do investimento.
A desvantagem do Brasil não se resume apenas ao preço do investimento produtivo em relação a outros emergentes. Quando a comparação é feita com países desenvolvidos, o Brasil perde também porque tem infraestrutura muito inferior a oferecer. Mauro Sá explica que em países onde o investimento é caro há, de modo geral, diferenciais favoráveis que explicam esse preço. O caso brasileiro, no entanto, não é esse.
Não há dados disponíveis para comparar o Brasil a outros países nos dois últimos anos. O Iedi analisou apenas os dados do PIB brasileiro para avaliar a tendência recente. A conclusão é que em 2011 e 2012, o preço do investimento brasileiro continua subindo. Mas há um detalhe curioso: a formação bruta de capital fixo de máquinas e equipamentos cresce num ritmo mais baixo que o investimento total.
A diferença entre os dois indicadores é que a formação bruta total inclui despesas com construção e instalação, além do maquinário. A conclusão dos pesquisadores, portanto, é que a pressão vem da área de construção, onde o preço da mão de obra também vem subindo acima da inflação.
As políticas de desoneração tributária do governo mostram ter efeito sobre o custo de máquinas e equipamentos, especialmente os juros abaixo do mercado cobrados pelo BNDES nos bens de capital. Mas esse incentivo não é suficiente para baratear o investimento total. O governo vem defendendo que há, em curso, uma recuperação do investimento no país.
Dados da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda apontam um crescimento de 7,8% na formação bruta de capital fixo no primeiro trimestre desse ano. Além disso, argumentam que a política econômica está privilegiando o investimento. As informações oficiais indicam que 71% das desonerações de R$ 163,6 bilhões estimadas para esse ano e o ano que vem estão direcionadas para o investimento e produção.
Entre as políticas capazes de aumentar a competitividade do investimento brasileiro, o governo cita a desoneração da folha de pagamentos, da energia elétrica, além do programa de concessões de R$ 240 bilhões. “Não é trivial reverter esse quadro. O governo ainda tem alguma margem de manobra, mas está cada vez mais estreita”, diz Mauro Sá.