O ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto disse, nesta terça-feira (7/7), que a atual situação econômica do Brasil foi criada deliberadamente para a manutenção das atuais estruturas de poder. Mas avaliou que é possível uma recuperação. Ele fez as afirmações durante plenária sobre o atual cenário macroeconômico no Ethanol Summit, realizado pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), em São Paulo.
“Cometemos um grande erro de política econômica e não há outra explicação para a atual situação do Brasil que não seja a reeleição”, disse Delfim . “O programa que está sendo implantado pelo (Joaquim) Levy (ministro da Fazenda) já estava preparado pelo Guido Mantega”, acrescentou.
Durante sua apresentação, o ex-ministro mostrou números que, segundo ele, evidenciam a situação econômica do Brasil. Segundo ele, o déficit nominal das contas do governo era de R$ 3 bilhões em 2013 e saltou para R$ 6,2 bilhões no ano passado. A dívida pública bruta, que era equivalente a 53,3% do PIB em 2013, passou para 58,9% no ano passado. Para este ano, ele projeta um déficit de 7% e um dívida pública chegando a 62% do PIB, além de uma elevação dos preços administrados, como energia e combustíveis, de 14%.
Apesar de considerar o cenário “complicado”, Delfim manifestou certo otimismo em relação à possibilidade de recuperação da economia brasileira. “Estamos em uma situação complicada, mas o mundo também está. Temos condições de recuperar o crescimento se corrigirmos nossos erros.”
Delfim destacou que um dos principais desafios do país é elevar a sua produtividade. De acordo com o ex-ministro, o crescimento da população está menor, o que inibe um aumento mais acelerado da mão de obra. Desta forma, é preciso, ao mesmo tempo em que se fortalece a infraestrutura, qualificar a força de trabalho. “Todo o crescimento deve vir do aumento da produtividade do trabalhador”, disse. Ele defendeu também que o Brasil explore melhor a sua “economia de escala”, aproveitando seu grande mercado interno e as exportações.
Energia renovável
Falando para um plateia de representantes da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, Delfim Netto afirmou que investimento em energia renovável é o “caminho correto” a ser seguido. Ele mostrou dados apontando que, atualmente, um quatro da energia utilizada no mundo é renovável e destacou que fontes renováveis como a energia de biomassa, que inclui a cana-de-açúcar, tem crescido a taxas mais altas que, por exemplo, a hidretricidade.
“Como o maior produtor do aquecimento terrestre é o combustível fóssil, a saída são os renováveis. A decisão neste sentido está correta. O que é preciso é acelerar os investimentos”, afirmou.
Nesse aspecto, ele avaliou que estado e setor privado devem atuar de forma interligada nos investimentos para desenvolver as fontes renováveis de energia. Para o ex-ministro, a discussão sobre o tamanho do estado na economia é irrelevante.
“Não há setor privado sem um Estado forte. E não há estado forte sem um setor privado capaz de produzir bens e serviços. São duas coisas ligadas”, avaliou. “É uma grande ilusão acreditar que o mercado contém em si a eficiência e a moralidade. Não tem nenhuma das duas, principalmente a segunda”, acrescentou.