Incomodados com a estagnação que acomete a produtividade da soja há mais de uma década no país, os membros do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) traçaram um plano para ajudar o setor a reencontrar o caminho dos ganhos de rendimentos. Composto por 25 empresas de sementes e instituições de pesquisa, o Cesb estabeleceu a meta de contribuir para que 10% da área plantada com a oleaginosa (o equivalente hoje a cerca de 3 milhões de hectares) produza entre 4 mil e 5,5 mil quilos, ou 67 sacas a 90 sacas por hectare, até 2020.
O desafio é grande, tendo em vista a distância em relação ao rendimento médio da atual safra 2013/14 que, nas contas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve ficar abaixo de 50 sacas por hectare – nível semelhante ao dos EUA. “Mas as fazendas mais produtivas do Brasil já conseguem 60 sacas por hectare de média. Queremos ajudar esses melhores agricultores, que depois vão ‘irradiar’ os conhecimentos que os levaram a evoluir para o restante do setor”, explica Orlando Martins, presidente do Cesb.
Boa parte da confiança na meta traçada vem dos resultados dos concursos de produtividade que o comitê promove desde que foi criado, sete anos atrás. Essas competições, diz Martins, colocaram na vitrine uma “nata” de agricultores que atinge níveis altíssimos de rendimentos em alguns talhões. Desde a safra 2008/09 até o ciclo passado, 2012/13, o rendimento dos 10 melhores colocados no concurso do Cesb saltou 33,5%, a 103,8 sacas por hectare – patamar que, prevê o comitê, será superado em 2013/14.
Na mesma comparação, a média brasileira teve altos e baixos, em um estreito intervalo de 44 a 52 sacas, mas a questão é até mais antiga. “Desde 2002 o Brasil não experimenta avanços expressivos na produtividade de soja, mas entendemos que há um caminho”, afirma Martins.
As soluções detectadas pelo concurso são variadas e, no momento, o Cesb prepara o que chama de “plataforma tecnológica” – em outras palavras, um pacote de recomendações ao agricultor, com base nas técnicas já desenvolvidas pelos campeões de produtividade.
As estratégias, diz o presidente do comitê, passam pelo básico da produção, como a atenção à adubação, às culturas usadas na rotação e ao espaçamento. Martins cita o caso de um agricultor que obteve mais de 100 sacas por hectare ao adotar um método de plantio cruzado, que reduziu a distância entre as linhas de plantas. “Os pesquisadores foram estudar e comprovaram que apenas diminuindo pela metade o espaçamento tradicional de 45 centímetros já há uma alta de 10% a 12% no rendimento”, conta.
Martins concorda que parte do rendimento deriva do bom nível de tecnificação, mas é preciso fazer também o melhor uso do maquinário. “Pela experiência dos produtores mais produtivos, também descobrimos que utilizar a plantadeira em velocidade mais baixa é ideal para ter uma distribuição mais uniforme das sementes”, diz.
Mas como levar essa expertise a um número maior de produtores? E mais: como fazer para que essas altas produtividades restritas a talhões ganhem maior dimensão nas fazendas? Para o Cesb, a solução está no fortalecimento da troca de informações entre os produtores.
Sob essa orientação, o comitê instituiu na atual safra 2013/14 uma categoria municipal em seu concurso de produtividade, que será seguido pela criação de fóruns de discussão locais, ocasião em que serão listadas as práticas que mais têm influenciado positivamente o rendimento na região. “Com a junção de todas essas recomendações construiremos nossa plataforma, que estará pronta dentro de três ou quatro anos”, prevê Martins.
Os esforços a campo serão complementados por uma frente de pesquisa, que busca estudar os fatores restritivos à produção. O Cesb formou uma rede de pesquisadores voluntários e o primeiro estudo, concluído recentemente, indicou que não é vantagem fazer adubação nitrogenada na soja. Além da nutrição, o manejo da cultura também está na pauta do grupo.