Esqueça os “cinco frágeis”. Agora os estrategistas do Morgan Stanley estão preocupados com os que poderiam ser chamados de os “dez problemáticos”. É como passaram a ser tratados países que estão particularmente sob risco desde que a China desvalorizou o yuan.
Apesar de os analistas não terem usado o termo, trata-se de uma boa descrição para qualquer uma das moedas – do real ao sol peruano, passando pelo won sul-coreano – com laços comerciais que as tornam mais suscetíveis à desaceleração da segunda maior economia do mundo.
“Tudo diz respeito à vulnerabilidade”, diz Hans Redeker, chefe de estratégia cambial global do Morgan Stanley em Londres. “As principais vítimas da mudança na política desta vez são as moedas dos países com elevada exposição à exportação e à competitividade das exportações da China.”
O Morgan Stanley estava certo em relação aos “cinco frágeis” – Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. Desde que foi cunhado, em 2013, o termo engloba quatro das oito moedas com pior desempenho no mundo em desenvolvimento. O real, a lira turca, o rand sul-africano, a rupia indiana e a rupia da Indonésia têm sofrido com um cenário que tornou mais difícil para seus países o financiamento de seus déficits em conta corrente.
Para Redeker, o maior desafio agora é o baixo crescimento global. Apesar de os bancos centrais de Japão, Europa e EUA terem lançado estímulos recordes, neste ano a economia mundial se expandirá ao ritmo mais lento desde 2009, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional.
Essa recuperação morna indica que a China não poderá depender das exportações para impulsionar a expansão, disse o estrategista, cuja empresa foi a segunda mais bem posicionada ao analisar o dólar em relação ao yuan, segundo dados compilados pela Bloomberg para o período de quatro trimestres terminado em 30 de junho. Em contrapartida, o crescimento mais lento também colocará os parceiros comerciais da China em uma encruzilhada.
Há algumas coincidências entre os “cinco frágeis” e a nova lista das moedas sob risco, entre elas o rand e o real. Também estão vulneráveis à desaceleração da China o baht tailandês, os dólares de Cingapura e de Taiwan, os pesos chileno e colombiano, o rublo russo, o won e o sol, segundo Redeker.
A China é o principal destino de exportação da maioria dos países da lista dos “dez problemáticos”, segundo dados compilados pela Bloomberg. O país respondeu por 37% das exportações da África do Sul e por 30% dos embarques da Coreia do Sul ao exterior em 2014.
Mesmo com o yuan corroendo os mercados, os investidores ainda preveem que o Federal Reserve (Fed) manterá o plano de elevar as taxas de juros pela primeira vez em nove anos, o que ameaça afastar capital que ia aos mercados emergentes. Os contratos futuros mostram que os operadores veem uma chance de 75% de o banco central dos EUA tomar uma decisão até o fim do ano.
“Nós teremos pelo menos mais um episódio problemático” antes de as moedas dos mercados emergentes se tornarem atraentes para compra, disse Steven Englander, chefe global de estratégia cambial no Citigroup Inc., à “Bloomberg Television”.