A diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova, defendeu a energia elétrica como estratégia central na luta contra a pobreza e a proteção do meio ambiente. A declaração foi dada nesta sexta-feira (24/06), em evento realizado na usina hidrelétrica de Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
“A nova agenda 20-30 para o desenvolvimento sustentável [da Organização das Nações Unidas] estabeleceu o objetivo de garantir o acesso a uma energia acessível, segura, sustentável e moderna para todos, assim como adotar medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e seus efeitos”, afirmou.
Irina Bokova esteve na região para assinatura do termo que eleva o Centro Internacional de Hidroinformática (CIH) como instituição de categoria 2 dentro do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da Unesco. Essa categoria posiciona o CIH como parte da chamada “Família das Águas” da Unesco, tornando-se referência na formulação de políticas para o segmento. No mundo, são 28 centros chancelados pela entidade.
Na solenidade, a diretora-geral elogiou o esforço de Itaipu por “transformar em realidade essa aventura e apoiar um programa tão emblemático para a Unesco para erradicar a pobreza, para o desenvolvimento e, eu diria, promover a paz”.
Ainda segundo Bokova, “Itaipu segue sendo a maior produtora de energia limpa e renovável do mundo, para impulsionar um desenvolvimento sustentável, econômico, turístico e tecnológico”.
“Eu diria que é uma honra estar neste lugar magnífico e simbólico. Simbólico porque é o símbolo do poder da natureza e da inteligência do homem, que busca compreendê-la; e símbolo da cooperação científica entre os dois países vizinhos”, salientou.
A assinatura, no saguão do Mirante Enzo Debernardi, na margem paraguaia de Itaipu, contou com a presença dos diretores-gerais da binacional, Jorge Samek (Brasil) e James Spalding (Paraguai), diretores e conselheiros da empresa, representantes do Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e autoridades dos dois países.
James Spalding lembrou que a elevação do CIH era negociada há mais de dez anos com a Unesco. Segundo ele, o programa é estratégico por refletir a preocupação de Itaipu, descrita na missão da empresa, em não apenas gerar energia limpa e renovável, mas também contribuir para o desenvolvimento sustentável dos dois países.
“Essa nova categoria vai permitir que a Itaipu, em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, possa fazer algo mais a favor das nossas comunidades e a favor da questão da água, que é a nossa matéria-prima”, completou.
Para Jorge Samek, a nova categoria do CIH abre a possibilidade para que tecnologias desenvolvidas no Oeste do Estado e na região do Alto Paraná, no Paraguai, sejam levadas a outras regiões do mundo, especialmente na América Latina e Caribe.
Samek acrescentou que a experiência dos programas socioambientais desenvolvidos por Itaipu, como o Cultivando Água Boa (CAB), premiado pela ONU em 2015, mostra que é possível produzir e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo.
“O que a gente faz é tentar construir um caminho melhor”, disse o diretor-geral brasileiro. “Essa é a preocupação de Itaipu, da ONU, da Unesco, e foi isso que se discutiu na COP 21, em Paris. Só que tem muito discurso pelo mundo inteiro. Aqui, no Oeste do Paraná, a coisa está acontecendo na prática.”
Sobre o programa
O Centro Internacional de Hidroinformática (CIH) é binacional (Brasil e Paraguai) e foi criado há dez anos, em parceria com a própria PHI-Unesco. A principal missão é desenvolver ferramentas e soluções para auxiliar a gestão sustentável dos recursos hídricos.
O gerente do CIH da margem brasileira, Rafael Gonzalez, explicou que o novo status permitirá ao centro ampliar as parcerias e a atuação internacional. “Isso já vinha acontecendo, mas agora o leque será maior em relação a governos e entidades de financiamento de projetos”, afirmou.
Entre as ações do CIH, está o estudo de soluções e metodologias de gestão de território, constituindo uma base de dados geográficos que permite a visualização de informações em mapas interativos e simulações aplicadas à gestão de bacias hidrográficas.
Somente em 2015, o centro capacitou 173 pessoas em metodologias, técnicas e ferramentas de gestão territorial em software livre aplicado à gestão de recursos científicos, além de viabilizar dez publicações técnico-científicas.
O CHI é também considerado essencial para o trabalho desenvolvido pelo Centro Internacional de Energias Renováveis–Biogás (CIBiogás) e pode ajudar a desenvolver o forte potencial de energias renováveis na região Oeste do Estado – como é o caso da Granja Colombari, de São Miguel do Iguaçu, que produz 1,2 MW dia a partir de dejetos de animais, com o uso de biodigestores.
Programação
Irina Bokova está em missão oficial pelo Paraguai e cumpriu extensa agenda na região. Logo pela manhã, visitou o Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu (PR), onde está localizado o maior atrativo turístico da região – as Cataratas do Iguaçu.
Na sequência, após a assinatura da parceria com o CIH, a diretora-geral da Unesco fez uma visita técnica à central hidrelétrica e plantou uma árvore no Bosque dos Visitantes, na margem paraguaia de Itaipu.
Ainda no Paraguai, na cidade de Hernandarias, Bokova conheceu o Museu Tierra Guarani, mantido por Itaipu, e descerrou uma placa comemorativa no Centro Internacional de Hidroinformática.