A disponibilidade de água será um problema para muitos países durante as próximas décadas. O uso intenso do líquido – seja para atividades agrícolas, industriais, consumo da população e mineração – está secando e poluindo rios e lagos e baixando o nível do lençol freático em várias regiões do globo. Outro aspecto preocupante desta situação é que a maior parte dos países com problemas de disponibilidade de água é pobre ou em desenvolvimento, com graves deficiências na infraestrutura de saneamento e grandes aglomerações urbanas. Este é o caso de países como a Índia, o Paquistão, a Nigéria e a China, onde a taxa de crescimento da população continua alta e tudo indica que a pressão sobre os estoques de recursos hídricos só tenderá a aumentar.
Um dos problemas mais graves é o da Índia, com cerca de 1,2 bilhões de habitantes, o segundo país mais populoso do mundo depois da China. Segundo a ONG Centre for Science and Environment, o país possui cerca de 8.000 cidades, das quais apenas 160 possuem sistemas de coleta e tratamento de esgoto. Dos 40 bilhões de litros de efluentes domésticos gerados diariamente no país, apenas 20% são tratados. O restante vai para rios e lagos, contaminando águas superficiais e o lençol freático, comprometendo cada vez mais os já escassos recursos hídricos do país. “O despejo de resíduos sem tratamento nos rios escoa diretamente para o subterrâneo, criando, assim, uma bomba-relógio na saúde da Índia”, diz a ONG. A falta de controle ambiental e conscientização permitem que pequenas fábricas descarreguem seus efluentes tóxicos nos cursos de água, o que contribui para deixar as águas ainda mais tóxicas para consumo.
A China, considerada a fábrica do capitalismo mundial, também tem graves problemas de abastecimento de água. Contando com uma população de 1,4 bilhões o país já enfrenta graves problemas de suprimento. Enquanto nas planícies do Norte as areias do deserto de Gobi avançam em direção ao Sudeste secando rios e destruindo áreas agrícolas, o grande número de poços espalhados pelo país acaba esgotando e baixando o nível do lençol freático em 50 ou até 90 metros. Parte considerável da agricultura chinesa depende da irrigação, o que também contribui para perda de grandes volumes de água. Outro fator de pressão é a exploração do carvão mineral e a geração de energia, que juntos chegam a utilizar 17% da água disponível na China. Com todo este impacto aos recursos hídricos, cerca de metade dos rios chineses – aproximadamente 28 mil – secaram desde 1990, segundo o Ministério de Recursos Hídricos e a Agência Nacional de Estatísticas da China. A poluição severa afeta 75% dos rios e lagos do país e 28% são inadequados até mesmo para uso na agricultura.
Com relação à disponibilidade de água o Brasil tem uma situação privilegiada, apesar dos desperdícios e da contaminação crescente dos recursos hídricos. Segundo a ONU, a situação mais adequada de oferta é de 2.500 metros cúbicos por habitante por ano. Os estados de Ceará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Alagoas e Sergipe têm disponibilidade abaixo deste valor, mas acima de 1.700m³/hab/ano, índice considerado “sob pressão” pela ONU. Em situação crítica, com menos de 1.500m³/hab/ano encontram-se a Paraíba e Pernambuco. Comparativamente, a China tem uma disponibilidade média de água de 1.730m³/hab/ano.