Os próximos 15 anos serão cruciais para o crescimento econômico e a mudança do clima – a novidade é que estas duas vertentes podem se beneficiar uma da outra. Estudiosos do assunto dizem que as decisões que forem tomadas hoje nos investimentos em cidades, no uso da terra e em energia irão determinar as chances de o aquecimento global ficar em 2°C até o fim do século.
É possível ter crescimento econômico e combater ao mesmo tempo a mudança do clima. “Desde que se tenha forte liderança e que se façam mudanças grandes e estruturais”, diz Felipe Calderón, o ex-presidente mexicano que dirige a Comissão Global sobre Economia e Clima, lançada em 2013, em Nova York. A comissão é uma iniciativa independente de sete países (Colômbia, Etiópia, Indonésia, Coreia do Sul, Noruega, Suécia e Reino Unido), com parceria de pesquisa entre institutos dos seis continentes. Tem 24 ex-chefes de Estado e ministros das finanças, além de empresários, prefeitos, acadêmicos e pesquisadores.
Até 2030, a economia global irá crescer mais de 50%, mais um bilhão de pessoas irá morar em cidades e cerca de US$ 90 trilhões serão investidos em infraestrutura em cidades, sistemas de energia e uso da terra. “Podemos investir esse volume de recursos na atual rota econômica, que emite muitos gases-estufa, ou podemos fazer isso de outro jeito”, diz Calderón.
A comissão está lançando o relatório “Better Growth, Better Climate – New Climate Economy Report” (“Crescimento Melhor, Clima Melhor – Novo Relatório da Economia Climática”, em tradução livre), às vésperas da cúpula climática que acontece na semana que vem, em Nova York. O esforço deve ser feito mirando três grandes sistemas globais: o uso da terra (agricultura e florestas), a dinâmica das cidades e as opções energéticas no mundo. O relatório estima, por exemplo, que recuperar 10% das terras degradadas no mundo e fazer com que voltem a produzir pode significar alimentar mais de 200 milhões de pessoas ao ano, diz o economista Jeremy Oppenheim, ex- Banco Mundial e diretor da McKinsey & Co e diretor do programa global que produziu o estudo.
“Precisamos de políticas públicas claras que tornem os investimentos atraentes principalmente para o setor privado”, diz o economista britânico Nicholas Stern, autor do mais importante estudo sobre o impacto da mudança do clima na economia, o “Relatório Stern”, de 2006. “Precisamos de investimentos em infraestrutura que direcionem para baixo a curva das emissões”.
O relatório lista dez recomendações, entre elas ter um acordo internacional forte em 2015, acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis, dar um preço robusto ao carbono como parte de reformas fiscais. “Hoje as pessoas podem lançar carbono na atmosfera de graça. Isso é um incentivo errado e subsidia danos”, diz Stern.