Foi apenas a partir da maior abertura da economia brasileira para produtos estrangeiros, no final dos anos 1980, que as empresas nacionais começaram a sentir a pressão da competição. Antes disso o mercado interno era bastante fechado para produtos importados, que só chegavam ao consumidor incorporando altos impostos de importação, além de taxas portuárias, despesas aduaneiras e outros custos. A situação era mais ou menos a seguinte: empresas (nacionais e multinacionais) estabelecidas no Brasil fabricavam produtos com pouca inovação tecnológica, baixa qualidade a custos relativamente baixos. Por parte da maioria das empresas, os investimentos em pesquisa (P&D), capacitação de mão de obra eram muito baixos. Além disso, com a ausência de uma efetiva concorrência – já que muitos setores eram oligopolizados – os produtos nacionais não tinham uma boa relação custo-benefício. Para completar o quadro, ainda não havia uma legislação protegendo o consumidor, criada em 1991.
Outro aspecto era a inflação. As altas taxas de desvalorização da moeda dificultavam o cálculo dos efetivos custos de produção. Com isso, a implantação de eventuais medidas de eficiência no processo produtivo tinha um impacto muito reduzido na competitividade final do produto. Foi somente a partir da introdução do Plano Real, com a quebra da curva inflacionária, que as empresas puderam avaliar melhor suas planilhas de custos e introduzir medidas de eficiência.
Nos últimos vinte anos a economia teve grandes avanços em grande parte devidos ao fomento da competição. Os diversos setores da economia avançaram na melhoria da eficiência e no uso racional dos recursos. No entanto, muito ainda resta por fazer. Ainda hoje, em todas as atividades – agricultura, indústria, construção e comércio – o país continua perdendo dezenas de bilhões de reais por ano, desperdiçando água, eletricidade, matérias primas e mão-de-obra. A perda de recursos, além de encarecer o produto ou o serviço, faz com que sejam necessários volumes crescentes de matérias primas e materiais – que direta ou indiretamente vem da natureza – o que aumenta cada vez mais o impacto ambiental das atividades econômicas.
A competição entre as empresas, a criação de leis protegendo o consumidor e o meio ambiente; o investimento em inovação e capacitação de funcionários; são fatores que aumentarão a eficiência da economia e do uso de recursos. No entanto, é preciso que o governo também faça a sua parte, investindo em infraestrutura e melhorando o sistema tributário e legal, facilitando o funcionamento das atividades econômicas – já que uma economia mais eficiente provoca menor desperdício de recursos naturais.
Ricardo Ernesto Rose
Jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)