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Meio Ambiente

Eficiência energética pode gerar 500 mil empregos no Brasil, diz OIT

A conclusão é de estudo com base em três cenários sobre a promoção de uma economia mais respeitosa do meio ambiente de agora até 2030

Eficiência energética pode gerar 500 mil empregos no Brasil, diz OIT

A transição do Brasil para a economia verde, com menos intensidade de carbono e recursos naturais, vai gerar amplas possibilidades de novos empregos que superarão a inevitável perda de postos de trabalho no país.

A conclusão é de estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com base em três cenários sobre a promoção de uma economia mais respeitosa do meio ambiente de agora até 2030. O relatório “Emprego, Questões Sociais no Mundo 2018” leva em conta somente medidas que os governos deverão adotar para implementar o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento climático.

Dados aos quais o Valor teve acesso mostram que a grande maioria dos setores da economia brasileira vai se beneficiar: de 163 setores econômicos analisados, 137 terão crescimento de postos de trabalho, enquanto 26 vão eliminar empregos.

O setor com maior potencial de criação de empregos nesse contexto é a construção civil e produção de eletricidade alternativa. Os ganhos se propagam em todos os setores econômicos.

O primeiro cenário da OIT se baseia em medidas que um país deve tomar para produção e consumo de energia pela implementação do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento climático a 2 graus Celsius.

No caso do Brasil, a estimativa é de que novas práticas sustentáveis nesse caso vão gerar 440 mil empregos em termos líquidos a mais na economia em 2030 em comparação com a manutenção das tendências atuais.

De um lado, serão destruídos 180 mil postos de trabalho, principalmente na produção de energia baseada em combustíveis fósseis e no cultivo de cana-de-açúcar. Ao mesmo tempo, serão criados 620 mil novos postos de trabalho, dos quais pelo menos 500 mil podem vir com serviços relacionados a menor demanda energética nos prédios, com construção ou renovação que dá mais atenção à eficácia dos recursos.

A indústria no país com maior potencial criador de emprego como percentual de postos de trabalho na indústria é a da produção de eletricidade eólica: 79,6%. 

O segundo cenário leva em conta a transição para uma agricultura mais sustentável. Globalmente, novas práticas podem causar perda de 1,9% da mão-de-obra no setor. Nas Américas, haveria eliminação de 2 milhões de empregos. A OIT não fornece o dado por país, por causa da pouca precisão de certas cifras individuais.

Mas a avalição é de que o Brasil, Argentina, Uruguai e Canadá, nas Américas, serão pouco afetados, até porque já praticam em boa parte a agricultura de conservação (AC), que utiliza um conjunto de técnicas agrícolas que protege o solo da erosão, melhora a fertilidade do solo, aumenta a sua rentabilidade e contribui para a proteção do meio ambiente.

A estimativa é de que 70% da terra arável no Brasil já está sob esse tipo de cultivo. A agricultura de conservação exige 20% a mais de insumos para proteger a colheita, em comparação à agricultura convencional, mas utiliza 24% a menos de mão-de-obra, 40% a menos de energia e tem rendimento 21% maior.

O terceiro cenário coloca foco numa gradual conversão para uma ”economia circular”, que integra atividades como a reciclagem, reparação de mercadorias, locação e reutilização, substituindo o modelo tradicional de extração, produção, utilização e eliminação.

Também nesse caso, a OIT não detalha estimativas por país. Mas se sente segura para estimar que o crescimento do emprego vai ser liderado pela América Latina e Caribe, com 10 milhões de novas vagas de trabalho. Boa parte pode ser no Brasil, o maior mercado da região, como em maior gestão de detritos, por exemplo.

“A estimativa é positiva sobre o Brasil porque o país tem cadeia de valor, faz extração de ferro, reciclagem, etc”, diz o economista Guillermo Montt, um dos autores do relatório.

No Brasil, a quantidade de empregos que dependem de um ambiente saudável e estável, os chamados ”serviços ecosistêmicos” — que inclui purificação de ar e água, renovação e fertilização de solos, proteção contra condições climáticas extremas etc. –, chega a 20 milhões de pessoas, ou 23% do emprego no país.

A alta prevista das temperaturas vai provocar estresse térmico, sobretudo na agricultura, e causará sérios problemas de saúde. Esse estresse térmico vai provocar uma perda de 1,28% das horas trabalhadas de agora até 2030 no Brasil, por causa de doenças – comparado a 2% na média global -, segundo a entidade.

O Brasil foi um dos 27 países que teve estudo mais detalhado, com ajuda de especialistas locais. Para Montt, da OIT, comparado aos 27 países, a constatação é de falta de estratégia nacional e intersetorial no Brasil. Ou seja, há uma dispersão de esforços. Tampouco se percebe do exterior uma tomada de decisão para antecipar a necessidade de certas qualificações para a transição verde.

“Em termos de competência para uma economia verde o Brasil esteve mais na ponta há cinco anos do que hoje”, diz Catherine Saget, principal autora do relatório. “É preciso preparar melhor a transição, até porque o Brasil é um país que tem tudo a ganhar.”

A França e a Coreia do Sul são considerados exemplos, tanto pela estratégia incluindo trabalhadores e empresas como pelos altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

O relatório da OIT destaca dois programas brasileiros, vinculando proteção social e proteção ambiental. O primeiro é o Bolsa Verde, do governo federal, que ajuda famílias a protegerem a floresta. O segundo é o RenovAção, do Governo do Estado de São Paulo, que ajuda, por exemplo, trabalhadores de canaviais a se adaptarem a outros setores.

A adoção de práticas sustentáveis no setor de energia, incluindo a modificação do mix energético, o uso de veículos elétricos e a melhor proteção de prédios, pode gerar 24 milhões de novos empregos no mundo até 2030.

Segundo a OIT, haverá criação líquida de empregos nas Américas (3 milhões, sendo 1,5 milhão nos EUA), mais 14 milhões na Ásia e no Pacífico e 2 milhões na Europa, com melhor produção e uso da energia. Em contrapartida, haverá perdas de emprego no Oriente Médio e na África. A Arábia Saudita e outros produtores de petróleo, como a Rússia, estão entre os perdedores na transição ecológica.

A entidade da Organização das Nações Unidas (ONU) projeta aumento de 14% em novas vendas de carros globalmente sendo elétricos em 2025, com maiores altas ocorrendo na Europa (30,6%), na China (15,5%), nos EUA (5,1%) e no resto do mundo (5,2%).

Além disso, uma ”economia circular” (com reutilização de materiais, reciclagem etc) criará cerca de 6 milhões de novas possibilidades de trabalho no mundo inteiro. A América Latina pode ter 10 milhões de vagas de trabalho e a Europa, 500 mil. Já Ásia e Pacífico perdem 5 milhões, a África, 1 milhão e o Oriente Médio, 200 mil empregos.

A transição para uma agricultura biológica cria mais 1,1% de empregos em países desenvolvidos. No entanto, a agricultura de conservação pode eliminar 4,8% de postos de trabalho em países em desenvolvimento, com as perdas concentradas na África e na Ásia e no Pacífico.

A expectativa é de perda de 83,1 milhões de empregos no cultivo de vegetais e frutas. Ao mesmo tempo, aumentarão as vagas para produção de frango, suínos e gado.

Para a OIT, a transição é urgente, em razão da pressão insustentável da atividade econômica sobre o meio ambiente. O crescimento dos salários estagnou, as desigualdades cresceram. Ao mesmo tempo, os modelos econômicos atuais conduziram à utilização de 1,7 vez mais recursos naturais e criação de detritos que a biosfera pode regenerar e absorver.”As mudanças de políticas poderão contrabalançar as perdas de emprego antecipadas ou seus efeitos negativos”, diz Catherine Saget, principal autora do relatório.

A maioria parte dos setores da economia mundial vai se beneficiar de criação de novos empregos com a economia verde. Somente dois setores — a extração de petróleo e a refinaria — terão perdas de um milhão de vagas ou mais. A estimativa é de surgimento de 2,5 milhões de vagas no setor de eletricidade gerada por energias renováveis, compensando a perda de 400 mil empregos na produção de energia à base de combustíveis fósseis.

O relatório defende sinergias entre as políticas ambientais e políticas de proteção social que assegurem a renda do trabalhador e a transição para uma economia verde.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima ser necessário investimento anual de US$ 6,3 trilhões em infraestrutura para atender as necessidades de desenvolvimento. E, com mais US$ 600 bilhões, esse investimento pode ser ecologicamente compatível.