Em que pesem os altos e baixos dos temas socioambientais na política dos países e a crise financeira internacional, o investimento em tecnologias verdes e energias renováveis, setor que se converteu em um mercado lucrativo nos últimos anos, continua a atrair capitais. Em apenas três anos, só na área de energia, o faturamento quase dobrou, alcançando € 198 bilhões, segundo estudo da ONG ambientalista WWF, com crescimento médio de 31% ao ano entre 2008 e 2010. Apesar do ritmo mais lento no ano passado, de 11%, o desempenho ainda é superior ao de outros setores.
A organização prevê que até 2015 o mercado de tecnologias verdes atinja entre € 240 bilhões e € 290 bilhões, com maior participação das renováveis no mix energético mundial. É na área de eficiência energética que se dá o maior crescimento (22%), seguido de equipamentos voltados para a energia solar (11%). Este segmento é puxado sobretudo pela China que desbancou a União Europeia e respondeu no último ano por um crescimento de €13 bilhões em tecnologia verde, chegando a € 57 bilhões.
A confiança dos empresários na expansão dos negócios relacionados a tecnologias limpas também está mantida, segundo o International Business Report 2012 da consultoria Grand Thornton, publicado este ano. O IBR revelou que 68% dos executivos desse setor, das mais de 11 mil empresas entrevistadas em vários países, esperam aumentar as receitas, e 62% preveem elevar os lucros. A confiança é justificada pela necessidade de reduzir custos de produção (52%) e pelos “lucros comerciais” que eles esperam obter (45%).
A preocupação com o meio ambiente embora ainda seja importante, deixou de ser a principal razão da adoção de tecnologias limpas. No longo prazo, os executivos sabem que a conservação dos recursos naturais representa um ganho para a saúde do planeta, mas acreditam que, em um horizonte mais próximo, é também um bom negócio. Tanto que 52% dos entrevistados esperam gastar mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e 51% planejam investir em máquinas e equipamentos mais eficientes.
“Promover o crescimento de empresas com soluções inovadoras de tecnologias limpas é uma necessidade diante da competitividade no mercado internacional”, resume Paulo Sérgio Dortas, líder da área de auditoria, tributos e consultoria da Grant Thornton Brasil. Ele chama atenção para as oportunidades dos países emergentes, entre os quais, o Brasil, nesse momento de crise dos mercados mais maduros. “No Brasil, esse tema ainda é recente mas com certeza a médio prazo estaremos em melhor situação.”
O desafio começa justamente na energia eólica, uma das maiores promessas na área de energias renováveis. Apesar do enorme potencial a ser explorado e a perspectiva de crescimento dessa fonte na matriz energética, o Brasil está correndo para recuperar o atraso. “O Brasil adotou uma posição passiva de importador de tecnologia”, afirma Flávia Pereira de Carvalho, pesquisadora do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral. “Enquanto as multinacionais vieram aqui para produzir a tecnologia que desenvolveram por meio de incentivo nos mercados de origem, a China optou por absorver o conhecimento que já existia nessas empresas e hoje é responsável por boa parte das instalações de manufatura de equipamentos eólicos.”
Agora, com a necessidade de atender a exigência de nacionalização de 60% dos componentes, incluída nos financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as grandes empresas de geração eólica começam a investir em tecnologia nacional. A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), que representa a cadeia produtiva, pretende incentivar esse investimento, criando uma plataforma de inovação, cuja chamada pública está prevista para março de 2013. O objetivo é reunir indústria, instituições de pesquisa e universidades e criar um ambiente facilitador de investimento em tecnologia nacional e mão de obra qualificada que atenda a demanda. “O que interessa é produzir recursos internamente”, afirma Élbia Melo, presidente executiva da Abeeólica.
O mesmo atraso ameaça o desenvolvimento da energia solar, alerta Carlos Del Pupo, diretor da Keyassociados e da WayCarbon. Segundo ele, outros países têm políticas internacionais de incentivo, mas o Brasil ainda não conta com uma política de crédito e fiscal para desencadear a implantação efetiva dessas tecnologias. “Atualmente o modelo adotado é o leilão, onde todas as fontes concorrem igualmente. Se não forem criados atrativos para consumidores, empresas e investidores, o risco é de correr atrás do prejuízo de novo”, diz.
Os especialistas reconhecem que houve avanços nas políticas públicas de fomento à pesquisa e inovação, que têm recebido recursos crescentes em setores-chave, como o de energias renováveis e eficiência energética. O BNDES lançou este ano uma linha de crédito com orçamento de R$ 360 milhões para projetos voltados a essas áreas, além de eficiência em transporte, combate à desertificação, melhorias na produção de carvão vegetal e aproveitamento energético do lixo. E mantém o Fundo de Inovação em Meio Ambiente, com foco direcionado para empresas inovadoras em estágio inicial, voltadas para o desenvolvimento de tecnologias limpas.
Além disso, em conjunto com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o banco desenvolve o PAISS, voltado para projetos de P&D com o etanol de segunda geração e novas tecnologias industriais de biomassa de cana.
Na busca de aplicações de energias sustentáveis, a Finep também desenvolve outras linhas de crédito, tais como o Brasil Sustentável, programa lançado este ano, que vai aplicar R$ 2 bilhões no desenvolvimento de smart grids, mobilidade e transportes urbanos sustentáveis, reciclagem de resíduos, saneamento, redução dos efeitos de mudanças climáticas e outros.