Contribuir para a melhoria da divulgação científica no Brasil, com ética, transparência e responsabilidade. Com este objetivo, especialistas reunidos na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), nesta terça-feira (1°/10), discutiram os desafios para a educação científica e a popularização da ciência, consideradas fundamentais para o desenvolvimento social e econômico sustentável do país.
A Embrapa desenvolve uma série de ações com o objetivo de aproximar a sociedade da pesquisa agropecuária, valorizando a ciência e a tecnologia e apoiando a transferência dos resultados de suas pesquisas aos cidadãos. “Além de gerar informações, tecnologias e serviços, é necessário disseminar o conhecimento para estimular a cidadania”, disse Heloiza Dias, jornalista da Secretaria de Comunicação (Secom).
Diversificar os canais de comunicação, especialmente na web, produzir conteúdo criativo e estabelecer maior interação com a sociedade são algumas das estratégias apontadas pela jornalista para a comunicação da Empresa. O uso e monitoramento das redes sociais também é uma das prioridades, com a criação de canais voltados a públicos segmentados.
“Todo mundo gosta de ciência; depende da forma como se aborda. A curiosidade é o motor da ciência”, afirmou o físico Ildeu de Castro Moreira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mostrou um estudo sobre a percepção pública da ciência que comprovou que 65% dos brasileiros têm interesse pelo assunto. Entretanto, considera essencial uma reflexão sobre a qualidade da divulgação científica e a expansão dos espaços científicos-culturais.
A formação de competências em divulgação científica foi um dos desafios citados pelo professor da UFRJ, que ressaltou os cursos desta universidade e do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor/Unicamp) para suprir essa carência. Ele ainda destacou a iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em incluir no currículo Lattes uma seção para o registro das atividades de comunicação da ciência realizadas pelos pesquisadores.
Para Ildeu de Castro, existe uma tensão permanente entre cientistas e jornalistas, mas essa é uma tensão essencial, importante para a comunicação pública da ciência e para a democratização da ciência e da tecnologia. Uma proposta para esse conflito é a busca pelo equilíbrio entre a linguagem científica e a jornalística, de acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Raquel Ghini, que abordou as diferentes visões desses profissionais sobre a cobertura de ciência.
“É importante também que o pesquisador compreenda que a informação divulgada pela mídia é diferente da publicação científica”, alerta Graça Caldas, jornalista e professora do Labjor. Para ela, o discurso da mídia é um terceiro discurso e é fundamental que o receptor compreenda a questão que está sendo debatida sob a perspectiva dele, ou seja, é preciso contextualizar, mostrar como essa questão impacta a vida das pessoas. “A mídia precisa construir a notícia de uma maneira crítica. Divulgar ciência não é só mostrar resultados positivos, mas as suas implicações”, defende Graça.
Novas tecnologias de comunicação e ciência
As novas tecnologias de comunicação contribuem para democratizar o diálogo na rede. A editora on-line da Revista Pesquisa Fapesp, Maria Guimarães, mostrou como cientistas e comunicadores estão interagindo na web para divulgação de conteúdos científicos. Além de contar com uma série de ferramentas digitais que facilitam a publicação e o compartilhamento de conteúdos, os profissionais ampliam suas redes de relacionamento e criam um diálogo mais igualitário com os diferentes públicos, que podem participar efetivamente da análise e produção dos conteúdos, explica a editora.
As assessorias de comunicação das universidades e instituições de pesquisa precisam aprimorar suas ferramentas, abordagens e, sobretudo, a criatividade para superar os desafios da divulgação científica, segundo Cilene Victor, professora da Faculdade Cásper Líbero e diretora da Revista Com Ciência Ambiental. Ela acredita que a ciência ainda é vista de forma estigmatizada e, por isso, é preciso fazer a conexão entre a ciência e a realidade de uma audiência cada vez mais apressada e conectada a diversos canais e envolvida com centenas de temáticas.
“Conjugar boas práticas do jornalismo com habilidades multimídia, com criatividade para produzir conteúdo e a compreensão de que a blogosfera científica pressupõe uma nova lógica de relacionamento com o público e com seus pares são desafios da divulgação científica”, aponta Cilene. Ela lembrou que há um número crescente de blogs, em diferentes regiões do mundo, com o perfil de informar, analisar e difundir resultados de pesquisas de maneira qualificada. Entretanto, além do domínio de ferramentas, “é preciso saber lidar com feedbacks instantâneos com o máximo de transparência, retidão e reconhecimento de erros”, afirmou.
A experiência da Embrapa nas redes sociais foi abordada pela jornalista Joanicy Brito, da Secom. Ela destacou as mudanças na divulgação científica com o uso da internet, que amplia o acesso aos resultados de pesquisa e desafia os comunicadores a produzirem conteúdo criativo multimídia. Uma das ações da Empresa foi a criação, em 2012, de um manual de conduta em mídias sociais, mostrando que as redes podem ser usadas profissionalmente e valorizando o compartilhamento de conteúdos para o avanço e a divulgação da ciência.
Além de perfis corporativos no Facebook e no Twitter, a Embrapa tem divulgado conteúdos científicos em redes temáticas, voltadas para públicos específicos. Um exemplo é a RepiLeite, Rede de Pesquisa e Inovação em Leite, coordenada pela Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG). O caso desta Rede pode servir como modelo para outros temas, com diferentes públicos, usando variadas ferramentas, entre elas blog, wikis, galerias de imagens, vídeos, grupos de discussão e chat, de acordo com Joanicy.
O 2º Encontro Mídia e Pesquisa foi coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Informática Agropecuária e Embrapa Monitoramento por Satélite (Campinas, SP), com apoio da Embrapa Produtos e Mercado – Escritório de Campinas e da Secom (Brasília, DF). O evento contou com a participação de cerca de oitenta profissionais de comunicação, cientistas e estudantes de jornalismo.