A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de continuar a injetar dólares na sonolenta economia dos Estados Unidos pode, ao menos por ora, frear a tendência de baixa de algumas commodities agrícolas.
Ontem, o índice Dow Jones-UBS AG, que monitora uma cesta de produtos agrícolas negociados nas bolsas americanas, fechou em alta de 0,3%, em boa parte influenciado pela decisão do Fed de manter a carga de estímulos.
“O consumo de matérias-primas pode crescer lentamente. Definitivamente podemos ver uma recuperação em todo o segmento”, disse à Bloomberg Jonathan Bouchet, trader da Boman Capital, em Genebra.
A expectativa de que os estímulos começassem a ser retirados fez com que o dólar se apreciasse em relação a moedas como o real nos últimos meses, o que ajudou a empurrar para baixo as cotações internacionais de produtos como soja, milho, café e açúcar.
A valorização do dólar funciona como um estímulo à oferta de países como o Brasil, uma vez que aumenta a receita em moeda local dos exportadores. Por isso, os preços – sobretudo daqueles produtos em que o país é o principal fornecedor – tendem a ceder quando a moeda americana ganha força.
O dólar forte também encarece as exportações de produtos como milho e trigo dos Estados Unidos, o que tende a frear a demanda e influenciar negativamente os preços desses produtos lá fora.
A notícia de que a política monetária americana deve continuar expansionista por mais algum tempo fez, porém, com que o dólar voltasse a cair em relação a outras moedas. Portanto, se o movimento persistir, a consequência pode ser uma elevação dos preços agrícolas a fim de restabelecer o equilíbrio anterior entre oferta e demanda.
Ontem, as cotações do café e do açúcar negociados em Nova York fecharam em alta de 0,8% e 1,5%, refletindo em grande parte a necessidade de manter o estímulo às exportações do Brasil.
Em Chicago, milho e trigo subiram 0,7% e 1,6%, impulsionados pela expectativa de que o câmbio mais favorável atraia compradores para os EUA. O impulso monetário não foi, entretanto, suficiente para evitar a queda de 0,6% no preço da soja.
O fato é que os fundamentos continuam a apontar para um cenário predominantemente baixista entre as commodities agrícolas, o que pode minimizar uma influência positiva do câmbio.
Nos Estados Unidos, os fazendeiros deram início àquela que promete ser a maior safra de soja e milho da história, embora a severa estiagem de agosto tenha levado o governo e o mercado a revisarem para baixo a previsão para a colheita da oleaginosa.
O mercado também é pressionado pela expectativa de um plantio recorde de grãos no Brasil na safra 2013/14, em parte estimulado pela recente guinada do dólar. Os amplos estoques mundiais de café, açúcar e algodão também parecem colocar limites a uma alta sustentada nos preços desses produtos.