A água e sua gestão é tema cada vez mais presente na mídia. E não apenas naquela que trata de temas ambientais, mas também na mídia voltada para temas de ciência e de economia. Estadistas, cientistas e empresários, percebem cada vez com maior clareza, que a preservação dos recursos hídricos é essencial para que a humanidade possa continuar vivendo decentemente sobre o planeta. A escassez do líquido coloca em risco a agricultura, as concentrações humanas e todas as atividades econômicas; podendo provocar revoluções, guerras, migrações e suas consequências para a humanidade: sofrimento, dor e morte.
Em artigo recentemente publicado no jornal O Globo, a jornalistas Ana Lucia Azevedo reata o drama de um dos maiores incêndio já ocorridos na Chapada Diamantina, na Bahia. O fogo teve início em final de 2015 e, alimentado pela seca do fenômeno climático El Niño, só foi debelado em janeiro de 2016. A região é conhecida como a Caixa D’ Água da Bahia e é o nascedouro de 80% dos rios do estado, inclusive do rio Paraguaçu, que fornece 60% da água consumida em Salvador. Os incêndios, que se espalham por áreas de difícil acesso, destroem os ecossistemas que propiciam a abundância de água na região.
Ao mesmo tempo, o jornal de economia e finanças Valor publica um artigo assinado por José Graziano Silva, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e ex-ministro do primeiro governo Lula, alertando para as influências do fenômeno El Niño sobre os padrões de precipitação pluviométrica e temperatura em várias partes do planeta, inclusive no Sul e Nordeste do Brasil. O texto alerta para a perigo de “fome, desnutrição, escassez ou contaminação de água”…”bem como perdas de colheitas acompanhadas de desertificação de terras agrícolas.” em várias regiões do globo.
A revista Scientific American, em artigo assinado por John Wendle em sua edição de abril de 2016, faz uma relação entre a seca, os abusos governamentais e a violência social. Segundo a publicação científica, entre 2006 e 2007 o nível do lençol freático da Síria baixou dezenas ou até centenas de metros, dificultando aos agricultores o acesso à água. Assim, entre 2007 e 2010, a Síria sofreu “a seca mais devastadora de sua história”. A falta de água ajudou a precipitar a crise econômica e social, afundando o país em uma guerra civil. Segundo a revista, o que ocorre na Síria é um prenúncio do que está em andamento em todo “o Oriente Médio em maior escala, o Mediterrâneo e outras partes do mundo.” …”O Crescente Fértil – o lugar onde a agricultura nasceu, há cerca de 12 mil anos – está secando. A seca na Síria destruiu plantações, matou animais e deslocou cerca de 1,5 milhão de fazendeiros.”
A região Sudeste e, especialmente, o estado de São Paulo, ainda não se recuperaram completamente da crise hídrica de 2014-2015. Os reservatórios não atingiram seus volumes médios e a quantidade de chuvas deve diminuir nos próximos seis meses. Por isso, causou certa apreensão a informação de que a Sabesp pretende abolir o bônus e a multa na conta de água. Especialistas dizem que ainda não é hora de relaxar o controle, apesar do governador Alckmim ter declarado que “a questão da água está resolvida no estado”. As mudanças das condições climáticas, associadas ao mal uso dos estoques de água, podem comprometer o futuro deste recurso.
Ricardo Ernesto Rose é Consultor, jornalista e autor, com especialização em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br