Nenhuma placa em um campo árido no Nordeste do Brasil indica que ali será o centro de uma das mais ambiciosas incursões agrícolas da China na América do Sul.
Em 2011, a Chongqing Grain Group Corp anunciou planos para construir na região de Barreiras, no oeste da Bahia, uma fábrica de esmagamento de soja, ferrovia e um polo gigante de armazenagem e transporte de grãos para exportação para a China.
O valor total do empreendimento: US$ 2 bilhões.
No entanto, até hoje, a empresa só conseguiu fazer a terraplenagem de uma área de 100 hectares, onde a unidade de processamento poderia um dia ser instalada.
Com o projeto em espera, o mato e os arbustos estão começando a crescer de novo no terreno limpo.
Os planos paralisados são exemplos das dificuldades enfrentadas pelos investimentos chineses outrora promissores no Brasil.
A notória burocracia brasileira, a desaceleração econômica do país e uma desconfiança profunda em relação à fome chinesa por terras parecem explicar por que o campo ainda está vazio.
Uma investigação da Reuters no ano passado descobriu que, após uma onda de anúncios de investimento nos últimos anos, até dois terços dos projetos chineses no Brasil enfrentam atrasos ou nunca saíram do chão.
O governo do Estado da Bahia diz que os planos do grupo Chongqing ainda estão se movendo para a frente – lentamente.
“É apenas em um processo burocrático”, disse Josalto Alves, porta-voz da Secretaria de Agricultura da Bahia.
Segundo ele, a fábrica precisa da aprovação de um governo municipal, bem como licenças ambientais.
Não está claro se a Chongqing abandonou os outros elementos do projeto.
Representantes da empresa na China e em sua subsidiária na Bahia, chamada Universo Verde, recusaram-se a responder repetidos pedidos de entrevista.
Alves disse que a empresa ainda está avaliando projetos de infraestrutura, apesar de outras autoridades locais dizerem à Reuters que as empresas brasileiras tendem a construir o polo ferroviário.
Margaret Myers, diretora do programa para a China e América Latina na Inter-American Dialogue, uma empresa de análise com sede em Washington, suspeita que os atrasos são causados por mais do que burocracia.
A Chongqing Grain Group originalmente planejava não apenas construir uma unidade, mas também adquirir grandes extensões de terras ao redor, segundo a imprensa brasileira.
Na época, os legisladores brasileiros expressaram preocupações de que a China estava interessada em garantir o máximo de recursos naturais que podia, com pouco benefício para o Brasil, um dos poucos países no mundo com novas terras disponíveis para a agricultura.
Myers disse que o projeto da Chongqing foi amplamente percebido como uma “apropriação de terras”.
O governo brasileiro reforçou restrições à propriedade de terras por estrangeiros em 2010, exatamente quando as negociações dos detalhes do projeto estavam em andamento. Autoridades disseram privadamente que a nova legislação foi destinada principalmente a China.
O governo do Estado da Bahia passou anos cortejando a Chongqing e ainda tem um escritório na China.
A China compra a maior parte da soja enviada pelo Brasil ao exterior.
Mas empresas agrícolas chinesas parecem estar mudando sua abordagem após desafios recentes.
Em vez de controlar toda a cadeia de produção de soja, algo que pretendia fazer na Bahia, a China tem buscado recentemente a aquisição de casas comerciais de produtos agrícolas.
Na quarta-feira, a maior trading de grãos da China, a Cofco, concordou em pagar US$ 1,5 bilhão por uma participação majoritária na unidade de agronegócio do Grupo Noble, com sede em Cingapura.
A compra seguiu o acordo da Cofco, em fevereiro, para comprar uma participação de 51% na trading de grãos holandesa Nidera, naquela que foi a primeira grande compra de uma casa de comércio por uma empresa agrícola estatal chinesa.
A Cofco agora vai ser capaz de comprar suprimentos de soja diretamente no Brasil e em outros países produtores, e processá-los em ração animal na China.
Isso permitiria aos chineses trabalhar com menor interferência das quatro grandes tradings de grãos do mundo: ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus.
Isso pode ser mais viável do que tentar entrar no jogo do Brasil, onde empresas dos EUA e da Europa têm unidades para esmagar e negociar soja há décadas.
No oeste da Bahia, unidades da Cargill e Bunge já têm acordos para comprar soja de produtores locais.
“As indústrias são muito bem estabelecidas e é difícil para os recém-chegados entrarem, mesmo para aqueles tão persistentes chineses”, disse Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, que reúne as indústrias de soja do Brasil.
A cidade de Barreiras vai analisar a proposta da Universo Verde para o plano de planta de esmagamento em breve, disse Adalto Soares, porta-voz do gabinete do prefeito, nesta semana.
A planta seria integrada com um novo distrito industrial planejado para a cidade, que incluiria um porto seco com acesso ferroviário –agora suscetível de ser construído por empresas brasileiras, disse ele.