A crise no setor energético, acrescida pela estiagem que afeta o Estado de São Paulo, ocasionou a interrupção no tráfego da hidrovia Tietê-Paraná e prejuízos no escoamento de soja do Mato Grosso. Segundo o Movimento Pró-Logística, presidido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Mato Grosso (Aprosoja-MT), o impacto financeiro deve chegar a cerca de US$ 37 milhões, caso a paralisação permaneça até novembro.
“Os custos com logística aumentam de 10% a 12% com o uso de caminhões até o Porto de Santos. Estimamos um impacto de US$ 15 por tonelada para 2,5 milhões de toneladas prejudicadas até o mês de retorno que nos foi previsto”, disse ao DCI o diretor executivo do Pró-Logística, Edeon Vaz Ferreira.
Em nota, o Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH) afirma que, desde fevereiro, a movimentação na Tietê-Paraná está restrita, com direcionamento da água para geração de energia em detrimento da navegação.
A interrupção só ocorreu, de fato, em 30 de maio, quando o calado (distância entre a quilha do navio e a linha de flutuação da água) foi reduzido para um metro no Canal de Nova Avanhandava.
“O DH mantém entendimentos com o Operador Nacional do Sistema Elétrico [ONS], Agência Nacional de Águas [ANA] e Daee [Departamento de Águas e Energia Elétrica] com objetivo de encontrar uma solução para que a navegação seja restabelecida o mais urgente possível. Caso isso não aconteça, a soja terá que ser transportada pela rodovia, por caminhões”, diz a nota.
Ferreira conta que o Movimento Pró-Logística está em uma ação conjunta com o Ministério dos Transportes e já participou de reuniões com a ANA a fim de solucionar a situação.
“O ministério [dos Transportes] ainda não nos deu nenhuma perspectiva de solução. Nossa maior preocupação não é o valor acrescido no frete, mas o conflito desnecessário gerado entre os setores, visto que ainda pretendemos fazer mais hidrovias e precisaremos de ações conjuntas”, enfatiza Ferreira.
Por outro lado, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, diz que, historicamente, o setor elétrico proporcionou margem dos reservatórios para outros usos além da geração energética, como navegação, captação de água para irrigação e questões ambientais. “A partir do momento em que se trabalha com escassez hídrica, cria-se um problema para estes outros setores e eles precisam resolver seus problemas sem que o consumidor final [de energia] saia prejudicado”, retruca Chipp.
Entenda
O calado mínimo exigido para a navegação é de 2,20 metros, abaixo disso a operação dos comboios fica prejudicada.
No dia 9 de maio, o calado da hidrovia passou para dois metros com ondas de vazão (manobra em que se turbina a geração de energia em Nova Avanhandava para aumentar o nível do rio e auxiliar na passagem do comboio pela eclusa – degrau para navios). Com isso apenas sete das 21 embarcações que utilizam a hidrovia neste trecho de longo percurso conseguiam passar pelo ponto crítico, localizado entre a usina de Três irmãos e Nova Avanhandava.
No dia 16 de maio, a Marinha determinou nova redução de calado, de dois metros para 1,70 metro com onda de vazão.
Mas, apesar da mudança, a operação das sete embarcações se manteve até dia 30 de maio, quando o calado foi reduzido para um metro, sem onda de vazão e a operação foi interrompida. Hoje o calado determinado pela Marinha é de 0,4 metros.