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Economia

Impasse financeiro ameaça Doha

Uma nova demanda de recursos financeiros feita pelos países em desenvolvimento às nações ricas pode colocar em colapso as negociações por um acordo climático na rodada de Doha, no Qatar.

Uma nova demanda de recursos feita pelos países em desenvolvimento às nações ricas pode colocar em colapso as negociações internacionais por um acordo climático em Doha, no Qatar, que entra em sua semana decisiva. O pedido é de US$ 60 bilhões até 2015.

Delegados da União Europeia disseram que não vão se comprometer em Doha com nenhuma outra soma para combater os problemas causados pelas mudanças climáticas. A crise econômica impede esse compromisso, justificam. Os EUA nem comentaram a ideia.

A questão financeira é um ponto nevrálgico da reunião. Os países ricos se comprometeram a dar US$ 30 bilhões (US$ 10 bilhões ao ano, de 2010 a 2012) como recursos de curto prazo aos países mais afetados pelas mudanças do clima. Em Doha será verificado se esse dinheiro realmente veio e se era adicional. Outra promessa dos países ricos é chegar a 2020 com US$ 100 bilhões ao ano para os problemas causados pelo clima.

“Mas o que acontece entre 2013 e 2020?”, diz o pesquisador Saleemul Huq, do instituto britânico IIED, um “think tank” sobre desenvolvimento sustentável do Reino Unido. “As nações mais vulneráveis precisam muito desses recursos e não há nada sobre a mesa.”

O G-77 (grupo que inclui hoje 136 países em desenvolvimento, de China e Índia a Haiti e Brasil) fez a demanda que foi logo rejeitada pelo negociador-chefe da UE, Arthur Runge-Metzger. “Muitos países europeus estão enfrentando situação difícil internamente.” Segundo ele, o bloco europeu prefere não se comprometer com novas somas, mas ajudará como puder.

O tema pode ser contornado por uma declaração na rodada ministerial de Doha, que começa na terça. A decisão política de contribuir com algo para as finanças climáticas pode vir de Alemanha, França e Reino Unido e contornar o impasse antes desta COP-18, prevista para terminar na sexta.

Em Doha começa a ganhar força um conceito novo no mundo em desenvolvimento, que tem a ver com mais desembolso dos ricos para os mais vulneráveis. Os países-ilha, apoiados pelas nações mais pobres do mundo e pelo grupo africano, querem que os demais discutam como resolver as “perdas e danos” que eles terão com a mudança do clima. “Primeiro começamos a falar em reduzir as emissões e depois em como se adaptar à mudança do clima”, explica Huq, do IIED. “Mas, se o nível do mar subir, para alguns países não haverá como se adaptar. A perda do território pode ser total.” Os europeus têm discutido esse ponto como um programa no acordo climático que requer mais estudos. Os americanos nem o debatem. “Os EUA não querem abrir nenhum campo novo neste assunto”, diz Huq.