Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Economia

Incertezas sobre a China devem continuar pressionando mercados

No Brasil, o Ibovespa caiu 3,03%, para 44.336 pontos, ao menor patamar desde 8 de abril de 2009.

Incertezas sobre a China devem continuar pressionando mercados

 As incertezas sobre como a China vai conseguir estancar a sangria de seus mercados, que ontem provocaram grandes estragos nas bolsas de todo o mundo, devem continuar pressionando ativos, segundo analistas, com alguns já vendo similaridades da crise atual com a ocorrida no fim dos anos 1990 e que também começou na Ásia.

O estrategista para mercados emergentes do Société Générale em Londres, Bernd Berg, vai ainda mais longe e diz que a crise atual tem potencial para se tornar ainda pior que a de 1997/98 e já está se espalhando pelo mundo.

O principal gestor para a América Latina da BlackRock, Will Landers, ressalta que a economia chinesa é muito maior do que há 15 anos e uma desaceleração forte no país terá grande impacto relevante na economia global. Por isso, os mercados estão estressados, tentando entender o tamanho dos problemas chineses. “Precisamos entender em que nível vamos chegar na China e o que as autoridades chinesas vão fazer.”

Ontem, a onda de liquidação de ativos de risco, iniciada na quinta-feira na Ásia, virou uma espiral de baixa mundial, sem sinal de alívio à frente, por enquanto. Foi nas bolsas que o nervosismo dos investidores em relação à situação da China ficou mais evidente ontem. O movimento de vendas teve início em Xangai, com o índice local recuando 8,5%.

Na Europa, o “selloff” (venda generalizada de ativos) levou o índice Stoxx 600 a fechar em baixa de 5,33%, na maior queda em termos percentuais desde dezembro de 2008. Em Londres, o FTSE 100 caiu 4,67% (maior queda desde março de 2009). Em Frankfurt, o DAX recuou 4,70%, e em Paris, o CAC 40 caiu 5,35%. Ambos registraram os maiores tombos desde novembro de 2011. Em Madri, o Ibex 35 fechou em baixa de 5,01%.

O pânico atravessou o Atlântico e atingiu Wall Street. O índice VIX – que mede a volatilidade das opções de ativos que compõem o índice S&P 500 – disparou e foi a 53,29 pontos ainda pela manhã, no nível mais alto desde janeiro de 2009. O VIX, também chamado de “índice do medo”, atingiu a máxima exatamente quando o Dow Jones perdia mais de 1 mil pontos – algo inédito na história do índice. O Dow Jones terminou em baixa de 3,58%. O Nasdaq recuou 3,82% e o S&P 500, 3,94%.

O aumento da volatilidade nos mercados fez com que muitos operadores e gestores que estavam de férias voltassem às mesas de operação, mesmo que de forma remota, segundo o “Financial Times”. Isso contribuiu para a elevação do volume que, a apesar de ser uma segunda-feira de agosto, alcançou o maior giro desde 10 de agosto de 2011 em Wall Street, com 13,94 bilhões de ações negociadas.

No Brasil, o Ibovespa caiu 3,03%, para 44.336 pontos, ao menor patamar desde 8 de abril de 2009, com volume expressivo de R$ 8,198 bilhões. Na mínima do dia, a bolsa chegou a cair 6,5%. Petrobras PN (-6,60%) e Vale PNA (-7,95%) ficaram entre as maiores quedas, atingindo seus menores valores em uma década.
No câmbio, o dólar comercial renovou sua máxima frente ao real em mais de 12 anos, atingindo R$ 3,5541, com avanço de 1,70%. Na máxima, a moeda alcançou R$ 3,5796, pico desde 5 de março de 2003.

O euro comercial, por sua vez, bateu recorde frente ao real, cotado a R$ 4,1221, com alta de 3,77%.
A mudança das apostas para alta dos juros nos Estados Unidos levou o Dollar Index – que mede a variação da moeda americana em relação a uma cesta de divisas – a cair 2,48% na mínima do dia, maior queda intradiária em quase seis anos e meio.

Os economistas do Barclays adiaram sua previsão para a primeira alta do juro básico pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de setembro deste ano para março de 2016. Embora os economistas do banco continuem a avaliar a atividade econômica nos Estados Unidos como “sólida”, a ponto de justificar uma “modesta alta no juro”, eles acreditam que é “pouco provável que o Fed inicie um ciclo de elevação do juro neste ambiente por temer que tal movimento possa desestabilizar ainda mais os mercados”.

Mas essa leitura não é consensual. O estrategista de câmbio para mercados emergentes do banco Brown Brothers Harriman em Londres, Ilan Solot, diz que os mercados podem estar exagerando no pessimismo e considera prematuras avaliações de que a turbulência atual possa levar o Fed a adiar um aumento de juros. O lado perverso disso, diz Solot, é que não há nenhum sinal de que a desvalorização de moedas emergentes está gerando benefícios do lado das exportações “já que o tombo nos termos de troca está anulando o efeito positivo do câmbio depreciado na competitividade”.

Para o economista Bruno Rovai, do Barclays, a piora do humor externo pode ser classificado como uma “espiral”, que tem potencial para manter os mercados sob pressão por mais alguns dias. Mas, em sua visão, é cedo para classificá-la como o estouro de uma bolha.