Caso o seu potencial fosse plenamente aproveitado, a biomassa da cana, sozinha, poderia representar 24% do consumo nacional de energia elétrica na rede até 2024. Entretanto, nos últimos seis anos, a ausência de políticas públicas mais adequadas, somadas à descontinuidade na contratação desta matéria-prima limpa e renovável (bagaço e palha representam quase 90% desta fonte) em leilões de energia, prejudicaram a sua expansão no Brasil.
A situação atual e as perspectivas para a biomassa na matriz elétrica do País foram os principais pontos abordados pelo gerente em Bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Zilmar de Souza, durante sua participação na audiência pública da Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), realizada segunda-feira (22/08), no Senado Federal, em Brasília. O objetivo principal do encontro comandado pelo senador Hélio José (PMDB) foi a discussão de medidas destinadas à implantação de energias alternativas e renováveis no Brasil.
“Em 2010, a biomassa representou 32% do acréscimo de capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional (SIN). De lá para cá, este número apresentou uma queda significativa. Em 2016, a previsão de crescimento é de 8%. Para 2017 é ainda pior: somente 3%”, alerta o especialista da UNICA, explicando porque a fonte é imprescindível para a diversificação no fornecimento de eletricidade e, consequente, para a segurança energética do País:
“Temos uma produção regular e previsível. O próprio Operador Nacional do Sistema reconhece que a fonte biomassa não é intermitente como a eólica e solar. É sazonal, mas com um diferencial: a safra de cana ocorre durante o período de seca nos reservatórios das hidroelétricas, poupando água nos reservatórios. Além disso, as usinas ficam próximas aos centros urbanos, reduzindo as perdas na transmissão e a dependência dos ‘linhões’, além de postergar a necessidade dos grandes investimentos para o transporte da energia.”
Para o executivo, considerando que há uma sobrecontratação de energia por parte das distribuidoras, mas, por outro lado, também existe uma previsão de leve recuperação do consumo a partir do ano que vem, o momento é ideal e importante para o Governo Federal considerar novamente a biomassa como prioridade na contratação nos leilões regulados, juntamente com as fontes eólica e solar.
“A esperança da esfera governamental levar este pleito da bioeletricidade adiante tem sido fortalecida em virtude do Acordo de Paris, firmado durante a Conferência do Clima (COP21), em dezembro de 2015, que estabeleceu ambiciosas metas para estimular a expansão conjunta das fontes eólica, solar e biomassa na matriz elétrica do País”, conclui Zilmar.
Além do senador Hélio José e da UNICA, participaram da audiência pública: o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Eduardo Azevedo; o superintendente de Regulação dos Serviços de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Chistiano Vieira da Silva; e a presidente-Executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEÓLICA), Elbia Gannoum; e o Assessor da Área de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEER), Roberto Barbieri.