A inflação voltou ao topo da preocupação dos executivos brasileiros. Em uma lista de seis preocupações imediatas – inflação, câmbio, mão de obra, inadimplência, custo do crédito e demanda fraca -, o efeito perverso dos aumentos de preços dos insumos, dos serviços e dos bens finais, que reduzem a renda real da população, recebeu nota de oito a dez entre a maioria dos 23 premiados na 13ª edição do prêmio “Executivo de Valor”, em evento ontem à noite em São Paulo.
Na sequência das preocupações, a qualificação da mão de obra – temor número um em 2012 – veio em segundo lugar, acompanhada de perto pelo câmbio, enquanto o custo do crédito, o aumento da inadimplência e a falta de demanda não passaram despercebidos, mas foram itens cuja preocupação variou muito de acordo com o setor de atuação de cada executivo.
Se a inflação é uma preocupação de curto prazo e seu controle uma condição indispensável para o Brasil voltar a crescer, a receita dos executivos para um Produto Interno Bruto (PIB) mais robusto e sustentável nos próximos anos passa por uma palavra-chave: competitividade. E isso depende, dizem eles, de políticas públicas mais claras que devolvam a confiança para que as empresas invistam, seja na produção, seja em infraestrutura.
O presidente da Microsoft, Michel Levy, diz que a inflação está indiretamente afetando os negócios de sua empresa, pois ela reduz o poder aquisitivo das pessoas. “Se a tendência de alta perdurar, ela poderá, sim, afetar nossos negócios de forma mais direta”, diz Levy. O impacto da inflação sobre a renda real das famílias também está no topo das preocupações de Márcio Utsch, diretor-presidente da Alpargatas, junto com o câmbio. “A inflação reduz a capacidade das pessoas de comprar e quem mais sofre são os que têm os menores salários”, diz Utsch. A inflação de serviços, ressalva, tem um impacto ainda maior, tornando o aumento do nível de preços uma preocupação generalizada.
Operando em um setor cuja demanda está diretamente ligada à renda da população, o presidente da BRF Foods, José Antonio do Prado Fay, acredita que, no curto prazo, o país precisa controlar a inflação e retomar uma expectativa positiva para o futuro, destravando a agenda de investimentos. A inflação, diz ele, é um entrave que afeta a todos os consumidores. “E como tudo que afeta o consumo se reflete na cadeia produtiva, por consequência, há impactos para as empresas”, diz Fay.
Embora afirme que a inflação ainda não afeta os negócios, o presidente da farmacêutica Sanofi para América Latina, Heraldo Marchezini, apontou a alta generalizada de preços como o principal entrave econômico do momento. Na Whirlpool, a alta da inflação, principalmente das commodities, tem deixado mais cara a produção dos equipamentos da linha branca, disse o presidente da empresa na América Latina, João Carlos Brega. Segundo Brega, a Whirpool, dona da marca Brastemp, tem lançado novos produtos e investido em inovação e tecnologia para driblar o impacto da alta de custos.
O presidente da EcoRodovias, Marcelino Rafart de Seras, listou inflação e falta de mão de obra qualificada como os principais problemas da economia brasileira. Para o presidente da EcoRodovias, o país precisa fazer investimentos “pesados” em infraestrutura, além das reformas fiscal, trabalhista e política, para voltar a crescer de maneira mais expressiva. “É importante também recuperar a confiança do investidor estrangeiro e reduzir gastos correntes, aumentando o superávit primário”, diz.
A demanda fraca e o câmbio estão entre as maiores preocupações de Harry Schmelzer Jr., presidente da fabricante de motores elétricos WEG. “A indústria passa por um momento difícil no Brasil, o que pode ser percebido pela perda gradual de dinamismo e participação do setor no crescimento da economia”, afirma Schmelzer, que mesmo assim se diz otimista com relação à economia brasileira.
Medidas adotadas pelo governo federal – como a redução do custo do crédito, o câmbio mais competitivo e a desoneração da folha de pagamento – ajudaram a mitigar os problemas da indústria, segundo Schmelzer. Uma retomada rápida do crescimento brasileiro, entretanto, envolve, na opinião dele, mais investimentos em infraestrutura e na melhora das condições logísticas para o escoamento da produção.
Operando em um setor com déficit comercial crescente, o presidente da petroquímica Braskem, Carlos Fadigas, também colocou o câmbio no topo de suas preocupações, seguido da inflação. Outro empresário com o mesmo temor é o presidente da Positivo Informática, Hélio Rotenberg. Para voltar a crescer, diz ele, o Brasil precisa equilibrar os gastos públicos, e para efeitos de médio e longo prazo na expansão da economia, Rotenberg defende mais investimentos em educação, e tornar a educação pública de qualidade.
A preocupação com a inflação também está presente no setor de serviços. A manutenção do poder de compra da população, crescente nos últimos anos, é essencial para o avanço do setor de telecomunicações, diz Antonio Carlos Valente, presidente da Vivo, por isso, diz ele, “todos os esforços para manter níveis administráveis de inflação são muito positivos”.
Na opinião de Valente, o governo tem acertado ao promover desoneração tributária para a indústria, atingida pela concorrência de produtos importados. A medida para ele, pode contribuir para o crescimento econômico do país. O consumo, para ele, não deve ficar para trás. “O país deve continuar a incentivar o consumo interno e, especialmente, o investimento privado”, diz.
O presidente do BTG, André Esteves, afirma que, embora a alta recente da inflação seja uma questão que precisa ser monitorada, não se trata de um problema da magnitude de duas décadas atrás. Para ele, a pressão sobre os índices de preço deve ser combatida da maneira tradicional, ou seja, com política monetária, e sem muita “celeuma”. Em uma escala de zero a dez sobre os maiores problemas da economia brasileira hoje – quanto mais alta, maior a preocupação -, o presidente do BTG Pactual classificou a inflação com nota 5. O executivo coloca a questão da mão de obra, incluindo encargos e educação, como um dos principais entraves para o país, com nota 10.
O presidente da rede O Boticário, Artur Grynbaum, diz que a rede sentiu uma leve desaceleração no primeiro trimestre e em abril houve uma recuperação dos resultados, mas não acredita que isso tenha a ver com a inflação. “Ninguém hoje repassa todo o aumento de custo para a ponta, ao consumidor, por isso os preços no nosso setor não sentem todo esse efeito de custos maiores”, disse. “O que percebemos como maior pressão inflacionária é no custo da mão de obra. Ninguém quer a volta da inflação, é uma preocupação.”
Apesar das medidas de desoneração adotadas pelo governo, alguns executivos continuaram apontando a carga tributária como um grande entrave ao crescimento do país. Para o executivo José Galló, presidente da Renner, a “burocracia paralisante, a alta carga tributária e os altos custos da mão de obra no país”, estão entre os fatores que mais o preocupam.
Numa lista de seis itens que mais preocupam o presidente da Ambev, João Castro Neves, ele cita, em primeiro lugar, a carga tributária – aspecto que não estava mencionado na lista apresentada pelo Valor aos executivos premiados. A demanda fraca também entra como alta preocupação, seguida da inflação, câmbio e mão de obra.
Formação de mão de obra e custo do crédito bancário são dois problemas econômicos do país que mais preocupam o empresário Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht. “É fundamental o crédito para a pequena e média empresa, para o consumidor final e financiamentos para projetos”, afirmou o executivo. Sobre a qualificação de mão de obra, ele afirmou que é um problema atrelado ao tema da educação. “Sempre falo: no longo prazo, tem de se preocupar com a formação da futura geração; no curto prazo, a qualificação profissional.”