Os investimentos em infraestrutura devem encerrar 2013 com avanço em relação ao ano passado. Estudo liderado por Cláudio Frischtak, presidente da Inter B. Consultoria Internacional de Negócios, e repassado com exclusividade ao Valor, aponta que os investimentos em energia elétrica, telecomunicações, saneamento e transportes devem saltar de 2,33% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012 para 2,45% em 2013.
Na liderança do processo, o setor privado deve encerrar o ano com uma fatia estimada dos investimentos em infraestrutura correspondente a 1,2% do PIB. Mas se o segmento tem participação majoritária nos investimentos, é o governo, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal, que financia aproximadamente 39% de tudo o que é investido, segundo Frischtak. Ao se levar em consideração os financiamentos de outros bancos públicos, garantidos pelo Tesouro, ou por fundos patrocinados por instituições públicas, o financiamento público sobe para 65% dos recursos em infraestrutura – 72% do valor investido em transportes. Segundo dados do próprio BNDES, porém, a fatia da infraestrutura nos desembolsos do banco caiu de 42% para 35% entre 2007 e 2012.
Segundo Frischtak, a expectativa de aumento dos investimentos em infraestrutura como percentual do PIB, de 0,12 ponto percentual de um ano para outro, representa muito pouco em relação ao país necessita para chegar em 2017 com pelo menos 4,5% do PIB investido em infraestrutura – percentual considerado razoável na comparação do país com seus pares. O Chile, por exemplo, investiu, em média, 5,1% do PIB em infraestrutura entre 2008 e 2011, enquanto, no Peru, esse percentual foi de 4,22%. Nesse ritmo, o objetivo no Brasil só seria alcançado em 17 anos. “O fato é que sem o programa de concessões, sem dúvida estaríamos em uma situação muito pior”, diz Frischtak, que apresentará o trabalho amanhã, em um evento do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).
Nos seis primeiros meses de 2013, além do setor privado, são os governos estaduais que vêm puxando os investimentos em infraestrutura – especialmente no segmento de transportes rodoviários. Na comparação entre o primeiro semestre de 2012 e igual período de 2013, os investimentos do governo federal caíram de R$ 6,3 bilhões para R$ 5,5 bilhões, um recuo de 14% no período. Os investimentos das empresas privadas subiram de R$ 17,4 bilhões para R$ 18,4 bilhões (alta de 5,5%).
O destaque, contudo, são as empresas estaduais e autarquias, com alta de 47,5% dos investimentos no período, de R$ 6,2 bilhões para R$ 9,1 bilhões. Em São Paulo, por exemplo, os investimentos em rodovias mais do que duplicaram, saindo de R$ 1,1 bilhão no primeiro semestre de 2012 para R$ 2,7 bilhões.
Segundo o estudo, enquanto os Estados dominam os investimentos em rodovias e mobilidade urbana, e o governo federal, os investimentos em ferrovias, o setor privado tem seus investimentos mais espalhados pelos setores de energia elétrica, transportes – com atuação dominante em portos, majoritária em aeroportos e relevante em rodovias e ferrovias – e telecomunicações. Por conta desse último segmento é que, na projeção para 2013, a participação do setor privado nos investimentos deve recuar de 1,3% em 2012 para 1,17%, levada justamente por uma queda dos investimentos em telecomunicações.
Quanto à grande participação do governo como financiador da infraestrutura, Frischtak avalia que o ideal, no longo prazo, seria o deslocamento progressivo dos bancos públicos e um papel mais central do mercado de capitais e de seguradoras. Ter o BNDES como um banco de desenvolvimento de infraestrutura, no entanto, não lhe parece ruim. “Não é uma má ideia”, diz. Segundo Frischtak, a impressão é que o governo chegou à conclusão que o PSI (Programa de Sustentação do Investimento, voltado para bens de capital e inovação) é muito caro, e talvez não tenha feito diferença. “Há um problema fiscal dos bons, o BNDES vai ter que escolher onde colocar seus ovos e, na margem, vai fazer mais efeito investir em infraestrutura.”