“É preciso fazer mais, e mais rápido”, foi a mensagem de abertura da presidente da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Christiana Figueres, para os 195 países reunidos em Bonn, na Alemanha, para mais uma rodada de negociações climáticas que começou nesta segunda-feira (29).
Na semana passada, a Universidade de San Diego afirmou que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera poderá ficar acima das 400 partes por milhão (ppm) em boa parte do Hemisfério Norte já em maio deste ano. Será a primeira vez em mais de três milhões de anos que a barreira dos 400ppm será ultrapassada.
Se a concentração de CO2 continuar a subindo na taxa atual, ficará impossível manter o aumento das temperaturas abaixo dos 2oC, o recomendado para se evitar as piores consequências das mudanças climáticas.
Reduzir as emissões de CO2 é um dos principais assuntos a serem discutidos em Bonn, e é uma das questões em aberto no futuro acordo climático que precisa estar pronto em 2015. Ainda não se sabe quais serão as metas, quem terá que cumpri-las e se serão voluntárias ou obrigatórias. A intenção é que esse novo acordo substitua o Protocolo de Quioto em 2020. Os cinco anos de intervalo são necessários para que cada país possa aprovar internamente o documento.
Porém, o avanço nas negociações tem sido muito lento. “Os governos já usaram um terço do tempo que temos para finalizar esse novo tratado. As conversas começarem em 2011 em Durban, mas pouco se progrediu desde então”, declarou Figueres.
O tom de urgência é compartilhado pelas nações menos desenvolvidas, conhecidas como LDCs. Em Bonn, elas reafirmaram seu compromisso de adotar metas obrigatórias para reduzir as emissões se isso facilitar as negociações.
No começo deste mês, o grupo, que reúne 49 nações, anunciou que espera liderar pelo exemplo e adotar uma postura proativa.
Ilustrando a situação crítica que os países mais vulneráveis já vivem, a Nigéria afirmou na semana passada que o impacto das mudanças climáticas na produção de alimentos é o principal fator por trás da crescente onda de insegurança no país.
O avanço da desertificação, a subida do nível do mar no delta do rio Níger e a diminuição acelerada do lago Chade têm provocado crises econômicas e alimentares que forçam os homens mais jovens a buscarem novas formas de se sustentar, incluindo o banditismo.
Otimismo – Apesar da pressão para que as negociações avancem, o ambiente em Bonn parece mais otimista do que em rodadas anteriores.
Uma das principais razões para isso é a nova postura dos Estados Unidos em relação às mudanças climáticas.
No tradicional pronunciamento Estado da União, em fevereiro, o presidente norte-americano Barack Obama declarou estar disposto a adotar nesse segundo mandato, mesmo sem o apoio do Congresso, medidas para reduzir as emissões e prometeu incentivar as fontes renováveis.
Outra transformação na postura norte-americana veio com a indicação de John Kerry para o cargo de Secretário de Estado. Kerry já se mostrou mais aberto a ceder nas negociações climáticas do que sua antecessora, Hillary Clinton. Inclusive, em sua recente viagem pela Ásia, o senador firmou acordos de cooperação com a China.
Em Bonn, também pode ser que um dos maiores obstáculos nas negociações, a capitalização do Fundo Climático Verde, comece finalmente a ser ultrapassado.
Estaria ganhando força a proposta do presidente equatoriano, Rafael Correa, de criar uma taxa de 3% a 5% sobre cada barril da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC) comercializado para nações industrializadas, como Estados Unidos, Japão e União Europeia.
A medida tem o potencial de arrecadar até US$ 60 bilhões por ano, e já teria o apoio de quatro dos 12 países que formam a OPEC: Equador, Nigéria, Venezuela e Catar.
O objetivo do Fundo Climático Verde é destinar até US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e adaptação climática às nações mais vulneráveis.
A rodada climática de Bonn prossegue até o dia três de maio.