A indiana Shree Renuka Sugars e a ETH Bioenergia, braço sucroalcooleiro do grupo Odebrecht, saíram da fase de conversações e avançaram para uma “due diligence” (auditoria) com objetivo de estabelecer as condições de uma possível fusão de ativos. As empresas, no entanto, não assinaram acordo de exclusividade. Segundo apurou o jornal Valor, a Renuka ainda conversa com investidores financeiros da Ásia a entrada de um parceiro estratégico.
Procuradas, Renuka e ETH Bioenergia não comentaram. Apesar da diligence já estar ocorrendo, internamente, executivos dos dois lados reconhecem que se trata de um grande desafio encontrar uma forma de unir as empresas. “Faz senso econômico para ambas, mas é uma grande questão encontrar uma forma de as companhias trabalharem juntas”, disse uma fonte que participa das negociações.
Como a due diligence ainda está em curso, os detalhes de como ficaria a composição acionária dessa nova empresa ainda não começaram a ser discutidos. No entanto, segundo fontes ouvidas pelo Valor, o presidente da Shree Renuka Sugars, Narendra Murkumbi, trabalha com a perspectiva de receber, além de uma fatia da empresa resultante da fusão, recursos financeiros com a integralização dos ativos da Renuka do Brasil. A empresa possui duas usinas em São Paulo, com capacidade total para moer 10,5 milhões de toneladas de cana e produzir até 295 MW (Megawatt) de energia. A expectativa do mercado é que a moagem da companhia em São Paulo se aproxime de 10 milhões de toneladas nesta temporada 2012/13.
Já a ETH Bioenergia tem nove usinas no Centro-Sul que, nesta temporada, devem processar juntas 20 milhões de toneladas de cana e produzir 1.297 Gigawatts/hora (Gwh). Se confirmado, o volume de cana será 53% maior do que as 13 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas em 2011/12.
Também no ciclo passado, encerrado em 31 de março, a ETH Bioenergia teve prejuízo líquido de R$ 793,05 milhões, 133% acima do resultado líquido também negativo de R$ 338,91 milhões da temporada anterior. No período, a receita líquida da companhia cresceu 64,96%, para R$ 1,45 bilhão, impulsionada pelo aumento da produção.
No entanto, enquanto a Renuka do Brasil tem uma dívida próxima de R$ 1,3 bilhão, a ETH devia, ao fim de março de 2012, R$ 8,09 bilhões, sendo R$ 1,67 bilhão no curto prazo (vencimento em até 12 meses) e R$ 6,42 bilhões de longo prazo (vencimento até 2028).
A subsidiária de São Paulo da Shree Renuka Sugars nasceu da compra da participação majoritária (atualmente em 59,4%) da Equipav Açúcar e Álcool, que vinha de um elevado endividamento. Além de ter absorvido a dívida da empresa, a indiana enfrentou sucessivas quebras de safra devido a problemas climáticos. No ciclo 2011/12, encerrado em março, a moagem das duas usinas paulistas somaram 8,3 milhões de toneladas de cana, queda de 20% em relação ao apurado no ciclo anterior.
A companhia indiana, com capital aberto na bolsa de Mumbai e faturamento global de US$ 1,2 bilhão no ano fiscal encerrado em 31 de março deste ano, já investiu R$ 1,05 bilhão nas unidades brasileiras, dos quais R$ 820 milhões em São Paulo e o restante nas duas usinas do Paraná, compradas também em 2009 da Vale do Ivaí.