Maio se foi, baixou a poeira da visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ao nosso país e ficou a proposta de uma crescente parceria de negócios Brasil-China, com reflexos imediatos e de longo prazo. Uma dádiva, pelo montante de investimentos, pelo momento em que acontece e por ter o potencial de ser uma inflexão positiva na atitude tradicionalmente mais tímida do Brasil, em desenhar grandes acordos no comércio internacional.
Um acordo que, além dos ganhos no comércio de nossas commodities, como soja e carne, representa também um conjunto de projetos de infraestrutura que os chineses estão se propondo a financiar, entre eles uma ferrovia que cruzaria a Amazônia, ligando o Atlântico ao Peru.
Só no Brasil, as intenções de investimentos e empréstimos podem alcançar US$ 103 bilhões, algo bem maior do que a explosão comercial que vem marcando a relação dos dois países, nos últimos anos – com a exportação de soja, minerais e petróleo brasileiros e a importação de produtos industrializados “made in China”.
Agora, o olhar dos chineses é mais abrangente e o escopo dos investimentos envolve os setores de agricultura, alimentos e infraestrutura, principalmente, com o governo da China sinalizando que suas empresas podem investir polpudos US$ 250 bilhões na América Latina, durante os próximos 10 anos.
Para uma economia no meio de uma reforma e com dificuldades de retomar o crescimento, como a brasileira, o novo acordo comercial tem, por enquanto, status de notícia internacional do ano, pelo que pode representar no curto prazo e, notadamente, pelo que pode potencializar em alavancagem econômica futura. Mas isso vai depender muito da nossa postura, na gestão e desenvolvimento do acordo.
Por exemplo, não cedendo à tentação de somente carimbar uma especialização brasileira em commodities, mas pensando no acordo como uma ferramenta para o desenvolvimento econômico-social mais amplo e a construção de um caminho de crescimento sustentado, por exemplo, na cadeia produtiva do agronegócio.
No mundo do comércio internacional, não existe em geral generosidades e altruísmo. Existem, sim, interesses legítimos de nações, que quanto mais fundamentados forem em visões geopolíticas sólidas e conscientes, mais resultados equilibrados tendem a gerar entre os parceiros. Do contrário, pode virar uma relação de balcão ao sabor das circunstâncias e das visões de curto prazo. E, depois, não adianta chorar o tesouro perdido.
A hora é agora. Capitalizar o potencial financeiro imediato do acordo sim, claro. Estamos precisando. Mas também desenvolver uma postura estratégica de longo prazo, com visões pragmáticas e pondo na mesa os interesses e sonhos brasileiros. Ou seja, colocar na discussão e na balança das propostas aspectos relacionados a onde queremos chegar e o que ambicionamos ser, como nação.
Fazer de tudo isso um ingrediente importante no desenvolvimento e evolução do acordo.
A sociedade e o estado brasileiro – com o agronegócio entre os principais protagonistas, não vamos esquecer – devem fazer de tudo para que esse acordo torne-se também a notícia da década e não apenas um álbum de fotografias da nossa história.