Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Estudo

O capim como alternativa energética para indústrias cerâmicas

Fruto das maiores produtividades, em termos de massa seca, o capim sempre apresenta melhores balanços energéticos, tanto melhores quanto menor a incidência de energia elétrica ou de consumo de diesel

O capim como alternativa energética para indústrias cerâmicas

O objetivo do presente estudo foi direcionado ao atendimento da necessidade de combustível renovável de biomassa, de uma indústria cerâmica padrão, definida como aquela com produção mensal de 500.000 blocos, a 2 kg/bloco, ou de 1000 t de produtos por mês. Essa biomassa deveria substituir aos atuais combustíveis (serragem e cavaco, principalmente). Para tanto, foi feita uma comparação entre um plantio dedicado de eucalipto e outro de capim elefante. Definidas as variáveis de um e de outro, como por exemplo, espécies ou variedades, espaçamento, adubação e épocas de colheita, o estudo foi conduzido, do ponto de vista da produtividade e energético, para várias condições, em busca das melhores alternativas. Embora o estudo tenha se limitado, nesta fase, a comparar balanços energéticos, há elementos para, numa fase seguinte, chegar-se ao levantamento de custos. Há um paralelismo insofismável entre gastos energéticos e custos financeiros.
Para o eucalipto, foram obtidos dados da literatura, considerados 2 tipos de plantio, o primeiro sendo o tradicional, com espaçamento médio de 3x2m, com cortes a cada 7 anos e duração prevista do plantio de 21 anos (Rodigheri et al., 2001) e o segundo, o assim chamado plantio adensado, com espaçamento de 3×0,5m, e corte previsto a cada 36 meses (Dinardi, 2014). Com relação ao capim, foram adotados dados de um plantio de projeto experimental, em Panorama-SP, polo de cerâmica vermelha, onde foram plantados, para efeito de comparação de produtividades, 3 variedades de capim elefante, o Cameroon, o Carajás e o Pennisetum Purpureum C.V. Guaçú.

Em função dos resultados iniciais da primeira colheita semestral, foi adotado apenas o Cameroon, bem superior aos outros. Para o capim, por exemplo, foram assumidos dois tipos de compactação, o enfardamento e a briquetagem, e, para o eucalipto, apenas a briquetagem. Quanto à forma de secagem, foram eleitos dois processos, a secagem solar e a secagem induzida.

Fruto das maiores produtividades, em termos de massa seca, o capim sempre apresenta melhores balanços energéticos, tanto melhores quanto menor a incidência de energia elétrica ou de consumo de diesel, comparativamente. Analisando primeiramente a combinação briquetagem com secagem solar, os valores dos balanços favorecem o capim, na razão de 14,45 contra 11,35 para o eucalipto de plantio adensado e 8,75 para o eucalipto de plantio tradicional.

Para a combinação secagem induzida e briquetagem, as razões passam a ser 9,68 para o capim contra e 9,26 e 7,18 respectivamente para o eucalipto, plantio adensado e tradicional. Vale ressaltar que, os maiores resultados encontrados para o eucalipto dizem respeito ao plantio adensado, o qual, apesar de sua maior produtividade, ainda é pouco usual e possui diversas dificuldades de plantio e colheita inerentes. A produtividade de eucalipto, baseada em colheita anualizada, constante da literatura utilizada, se situa entre 19,5 e 34,9 tm.s./ha.ano, o último valor se referindo a plantio adensado . Para o capim, a produtividade que emergiu da colheita semestral, no projeto de campo em Panorama-SP, em base anualizada, resultou em 56,8 tm.s./haa.ano.

O enfardamento do capim apresenta valores que se destacam, com razões de balanço de 20,65 e 11,23, para secagem solar e induzida, respectivamente, aparecendo como a melhor alternativa, mas, devido às limitações do sistema de alimentação mecânica por rosca-sem-fim, já existente nas cerâmicas, resulta como a melhor solução o uso dos briquetes de capim elefante, em especial, mini-briquetes, também conhecidos como bripells, fabricados pela Bripell Projetos e Equipamentos, que surgem como uma excelente opção de compactação, com umidade baixa e controlada, com elevado poder calorífico, e sem problemas para alimentação automatizada.

Espera-se, com esta breve análise, resumo de trabalho bem mais detalhado, demonstrar viabilidade técnica e energética do capim elefante frente a biomassas mais tradicionais, ou ao menos abrir discussões sobre o tema. Espera-se também abrir caminho, frente às novas mudanças em sustentabilidade no mundo, para introdução do capim elefante, uma gramínea rústica e extremamente adaptável a diversas condições edafoclimáticas, como fonte de energia, ao invés do uso tão exclusivo de madeira e resíduos de eucalipto. Cumpre finalmente lembrar dois fatos: a biomassa é a única fonte de energia renovável que pode interagir com o saldo de carbono de cerca de 4 bilhões de toneladas de C por ano, que se somam às já existentes na atmosfera, e que provam todos os efeitos dos gases estufa. Para absorver esse carbono, seria necessário, por ano, uma área de plantio de florestas em torno de 400 milhões de hectares, enquanto seriam necessários apenas 20 milhões de hectares de plantio de capim elefante. O segundo fato é que a biomassa pode gerar energia junto aos centros consumidores.

O Brasil possui 145 milhões de hectares de terras degradadas ou subutilizadas (John, 2014) aguardando recuperação. O capim elefante pode ser a forma mais rápida e econômica de resolver esse problema, e além disso, o Brasil é o locus ideal para geração de energia de biomassa, pela extensão de terras disponíveis, pelo número anual de horas de insolação, só igualável por países africanos.