Como diziam os mais antigos e experientes: “hoje o mar não está para peixe”. O mesmo podemos dizer sobre o nosso clima que está passando por uma verdadeira revolução. Quantos de nós muitas vezes afirmávamos “olha, a partir de tal mês começará a chuva!”. Porém, hoje, por mais que tenhamos a melhor tecnologia, podemos ter incertezas. Para quem vive de agricultura o clima sem dúvida é um fator determinante do que deve ser feito e como se preparar para as surpresas. Hoje o Brasil é líder em muitas culturas e produção de alimentos. Teremos logo nove bilhões de pessoas no mundo, logo ali, 2050. Pensando para frente, daqui exatos 38 anos, muito tempo, talvez! Mas na minha visão, muito pouco tempo para produzir tudo que necessitamos em equilíbrio com o meio ambiente.
Recentemente a ONU (Organização das Nações Unidas) emitiu um relatório, um esboço de 44 páginas do Sumário para Definidores de Políticas, redigido pelo Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) que será de uma série de relatórios do IPCC atualizando informações de 2007 para orientar os governos nacionais. Segundo este relatório, a agricultura brasileira poderá sofrer prejuízos na ordem de sete bilhões anuais, provenientes de perdas de produtividade em culturas importantes como soja, milho, café, redução das chuvas mais drástica no Norte e Nordeste (região amazônica) que influência diretamente a região dos cerrados no regime de chuvas, risco para abastecimento das águas subterrâneas e por mais incrível que pareça: em todo litoral o volume de pesca pode cair 6% em 40 anos. Isso parece assustador!
Bom, isso tudo parecer ser irreal, mas certamente algo de verdade pode existir. Ou acordamos, ou certamente teremos problemas gravíssimos pela frente. Receio que hoje já temos 900 milhões de seres humanos que passam fome. Se não fizermos algo, este número poderá aumentar o que seria um grande desastre para toda a humanidade. Já é difícil acreditar que isso acontece: que a cada oito pessoas uma delas passa fome. Outro dado alarmante segundo o documento é que a temperatura no Brasil pode aumentar de 3 ºC a 6 ºC até 2100, situação que ficaria ainda mais crítica com uma possível escassez de chuvas. Na Amazônia, por exemplo, em 2100 a temperatura pode subir cerca de 6 ºC e a distribuição de chuvas na região pode cair 45%. Este calor acentuado poderia desencadear uma desertificação da Caatinga, redução de chuvas no pantanal em até 45%, enquanto na porção Sul/Sudeste da Mata Atlântica a quantidade de chuva pode subir até 30% nas próximas décadas, no Pampa, que abrange os estados do Sul, esse cresce 40% – o que aumenta o risco de inundações e deslizamentos em áreas costeiras.
O fato é que, por mais que estes documentos pareçam ser “suposições”, temos de convir que nosso clima tem mudado nos últimos anos com regime de chuvas inconstantes, frentes frias fora de época, chuvas em épocas que não se tinha relato das mesmas, enfim, mudanças que colocam em risco a atividade rural constantemente.
De fato, o clima mundial e o brasileiro não estão para peixe! A agricultura brasileira tem contribuído decisivamente para a preservação de nossas florestas e os agricultores sabem disso! Cabe ao meio urbano unir-se ao meio rural para que possamos juntos, encontrar soluções que minimizem eventuais impactos destas mudanças que todos nós sabemos que estão acontecendo. Afinal, todos nós reclamamos das diferenças no clima de alguns anos atrás. Mãos a obra: o Brasil será o “supermercado” do mundo, mas precisamos nos preparar para eventuais mudanças no clima, sob pena de deixar de produzir o que produzimos com maestria nos dias de hoje. Espero que o melhor esteja por vir, sempre.