As hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por cerca de 70% da capacidade de armazenamento de água do país, devem chegar ao fim de março ainda abaixo do patamar de 40% de acumulação. Segundo o Operador nacional do Sistema Elétrico (ONS), os lagos das usinas das duas regiões deverão alcançar 37,9% no último dia deste mês, volume muito inferior em comparação com igual período de 2013, quando foi registrado 54,1% de armazenamento.
O nível previsto pelo ONS para o fim deste mês significa um avanço de apenas 3,3 pontos percentuais em relação ao apurado no fim de fevereiro, de 34,6%. Os dados fazem parte do último relatório do órgão sobre a operação do sistema para esta semana.
O documento confirmou ainda informação antecipada na sexta-feira pelo Valor, de que o operador espera que as chuvas este mês atinjam 67% da média histórica para março no Sudeste e Centro-Oeste. A previsão para o Nordeste é ainda pior: um volume de chuvas 32% inferior à média histórica.
Com uma previsão de chuvas mais fraca, o Nordeste, o segundo subsistema mais importante do país, deve encerrar março com um nível de acumulação de 44,5%, segundo o ONS. O volume significa um aumento de 2,3 pontos percentuais ante o nível registrado no fim de fevereiro. Em 31 de março de 2013, os reservatórios das usinas do Nordeste alcançaram 42,9%.
O ONS também estima uma ligeira recuperação do nível de armazenamento dos reservatórios das usinas do Sul. O órgão trabalha com um aumento do estoque de 37,3%, no fim de fevereiro, para 37,9%, no fim deste mês. No último dia de março de 2013, as hidrelétricas da região marcavam 62,4% de armazenamento. A expectativa de chuvas do órgão para o Sul neste mês é de 87% da média histórica.
O Norte é a única região que confirma o histórico de aumento do nível dos reservatórios durante o período úmido, que vai de novembro a abril. Segundo o operador, as chuvas na região devem atingir 109% da média histórica em março e possibilitarão um nível de armazenamento dos reservatórios de 87,3% no fim deste mês. Em 28 de fevereiro, os reservatórios da região marcaram 80,9%. Já em 31 de março de 2013, o estoque era de 94,2%.
Com relação à carga de energia (consumo mais perdas), o ONS prevê um total de 68.205 megawatts (MW) médios em março. O volume é 7,4% superior ao apurado no mesmo mês do ano passado. O principal mercado consumidor, o Sudeste/Centro-Oeste, deve alcançar uma carga de 40.994 MW médios, 60% do total do país, com uma alta de 6% frente março de 2013.
Com a queda do nível dos reservatórios e a carga crescente, o ONS está acionando todas as termelétricas disponíveis no país. Do início do ano até hoje, o operador mandou ligar mais 36 usinas do tipo. Com isso, a produção de energia a partir de térmicas, incluindo as nucleares, saltou de 10,6 mil MW médios, em 1º de janeiro, para 16,3 mil MW médios, na primeira semana de março. No mesmo período do ano passado, o ONS acionou 14,4 mil MW médios de termelétricas.
Segundo um executivo de uma grande geradora de energia do país, a situação de abastecimento do país hoje só não é pior do que a do período do racionamento, em 2001 e 2002, devido ao aumento do número de térmicas no Brasil nos últimos anos. “Ainda bem que temos as térmicas”, afirmou ele ao Valor.
De acordo com o relatório do ONS, 12 térmicas acionadas pelo operador não estão produzindo energia. Segundo o documento, essas usinas estão indisponíveis pela legislação vigente ou por informação do agente gerador.
Nesta lista, está a térmica de Uruguaiana, da AES Brasil, situada na fronteira com a Argentina. A usina ainda aguarda o fornecimento de gás natural para poder operar. O energético será importado, na forma de GNL (gás natural liquefeito), pela Petrobras em um terminal na Argentina. De lá, ele será transportado por uma rede de dutos até a termelétrica.