A produção agrícola alagoana é diversificada, caracterizada por culturas permanentes, como o coco; outras semiperenes, como a cana-de-açúcar e pelas temporárias, como milho, algodão, arroz, mandioca, amendoim e feijão.
Foi devido ao subaproveitamento dos resíduos resultantes dessa diversidade de recursos agroindustriais que o engenheiro químico da Secretaria de Estado do Planejamento e Desenvolvimento Econômico (Seplande), Edmundo Accioly, elaborou um estudo das características físico-químicas e o potencial energético da biomassa em Alagoas.
A pesquisa, realizada durante quatro anos pelo Instituto de Química e Biotecnologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi tese de doutorado do engenheiro, que apresentou seu trabalho em setembro desse ano e se tornou o primeiro doutor da Ufal na linha de pesquisa em Ciências e Inovação Tecnológica.
O estudo, voltado para a possibilidade de aproveitamento dos resíduos em fornos cerâmicos – segmento que passa por dificuldades com relação à indisponibilidade de fontes de energia a baixo custo-, identificou, descreveu e analisou as características físico-químicas e energéticas dos resíduos agroindustriais do Estado.
Para a caracterização dos resíduos, foram selecionadas as cinco principais cerâmicas do Estado. Distribuídas nos municípios de Arapiraca, Capela, Passo de Camaragibe e Maragogi, essas indústrias produzem blocos e telhas e consomem combustíveis não-renováveis. O poder calorífico, a umidade, a granulometria, o teor de cinza e a densidade foram algumas das propriedades analisadas.
“No Agreste, a quantidade de resíduos produzidos é suficiente para alimentar o forno de um tipo denominado Hoffmann, assim como a fornalha, durante um ano. Nas outras regiões, como Zona da Mata ou Norte, os resíduos suprem apenas durante uma parte do ano”, explicou o pesquisador.
De acordo com o engenheiro, existem cerâmicas no Estado que utilizam o coque – tipo de combustível derivado do Petróleo- que, se substituído por resíduos agroindustriais, pode gerar para o empreendimento uma economia de 30% a 40%. Além disso, também existem os benefícios ambientais, visto que os resíduos são considerados combustíveis renováveis.
Para Jackson Pacheco, secretário adjunto de Energia e Recursos Minerais da Seplande, a pesquisa fortalece o setor, já que aponta para a possibilidade de utilização de uma energia renovável numa importante área econômica. “As cerâmicas alagoanas representam aproveitamento de mão de obra local e geram, com isso, emprego e renda. A utilização de um combustível natural e mais barato pode acelerar o desenvolvimento desse tipo de indústria”, argumentou o secretário adjunto.
Florestas energéticas – Outra importante alternativa energética para o setor cerâmico de Alagoas é o cultivo e uso das chamadas florestas energéticas, em assentamentos rurais, tais como o plantio de eucalipto, pinus, capim elefante e espécies nativas, como o sabiá e o bambu. De acordo com a pesquisa, dos 102 municípios alagoanos, 39 tem assentamentos, equivalente a 3,2% da área total do Estado.
Para o estudo, o assentamento São Luiz serviu como base, distante 20 km de uma cerâmica do município de Capela. “Se 25% da área total do assentamento for destinado para o plantio de eucalipto, só no primeiro corte alimentaríamos a cerâmica de Capela durante dez meses, economizando R$ 13 mil por mês, trocando a lenha convencional pela energia gerada pelo eucalipto”, explicou o engenheiro químico.
Além de gerar uma economia para as cerâmicas, a opção do plantio de florestas energéticas pode proporcionar melhores condições financeiras aos assentados. “Eles terão a opção de comercialização, pois atualmente as cerâmicas compram a lenha nos Estados de Sergipe, Pernambuco e Bahia. Mas é necessário desenvolver uma política pública no sentido de incentivar esse aproveitamento”, destacou Edmundo Accioly.