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Economia

PIB fraco pode afetar crescimento de 2014

A recuperação lenta e gradual da atividade econômica teve vida curta.

PIB fraco pode afetar crescimento de 2014

A recuperação lenta e gradual da atividade econômica teve vida curta. Embora nos quatro trimestres encerrados em setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha subido 2,3%, a frustração com os resultados do terceiro trimestre – quando a atividade recuou 0,5% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal – levou economistas à revisão, para baixo, nas estimativas para o crescimento deste ano e o de 2014. Os dados do PIB do terceiro trimestre foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com retração um pouco mais forte que a esperada da economia entre julho e setembro e com a revisão para baixo do resultado do primeiro trimestre (que saiu de um crescimento de 0,6% para zero na comparação com o último trimestre de 2012), as expectativas para a expansão do PIB de 2013, antes concentradas em 2,5%, voltaram a ficar mais próximas de 2%. No próximo ano, segundo analistas consultados pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, dificilmente esse patamar deve ser atingido. Isso se deve à herança estatística mais fraca deixada pelo PIB deste ano e, também, à perda de fôlego projetada para os investimentos num ambiente em que o consumo deixou de ser o principal motor da economia, apesar da “volta” com força desse componente do PIB no terceiro trimestre de 2013.

Na comparação trimestral com ajuste, a alta do consumo das famílias se acelerou de 0,3% no segundo trimestre para 1% no terceiro, mas economistas viram esse comportamento como pontual, puxado por incentivos do governo, como o programa Minha Casa Melhor, e pela perda de fôlego da inflação em 12 meses. A queda de 2,2% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil), porém, foi avaliada como o início de uma trajetória de arrefecimento dos investimentos, dado o aperto das condições financeiras desde abril e a falta de confiança e previsibilidade por parte de empresários e investidores.

O coordenador de contas nacionais do IBGE, Roberto Olinto, relativizou o resultado negativo dos investimentos no terceiro trimestre, pois no acumulado do ano eles crescem 6,5% em relação ao mesmo período do ano passado. “É preciso ressaltar que, na ponta, os investimentos estão em desaceleração, mas esse indicador cresce nos acumulados e na comparação interanual [sobre o terceiro trimestre de 2012]. É preciso avaliar todas essas variáveis. O que preocupa é quando todas elas estão negativas”, disse Olinto.

Pela ótica da oferta, o setor agropecuário encolheu 3,5% com o fim da influência das supersafras, concentradas na primeira metade do ano. Mas a principal influência negativa para o PIB do terceiro trimestre partiu da indústria e dos serviços, cujas atividades subiram apenas 0,1% no período (nos dois casos).

Para Fernanda Guardado, do banco Brasil Plural, a demanda das famílias permanece como “um sustentáculo importante” da economia, mas não há espaço para grandes ganhos de ritmo nos últimos três meses do ano, nem em 2014. Ela destaca que o avanço de 1% do consumo no terceiro trimestre veio após dois resultados muito fracos, enquanto, para os próximos meses, o desaquecimento do mercado de trabalho e a perda de vigor do crédito impedem um avanço expressivo dessa parte do PIB. “As famílias estão se desalavancando. Com ganhos reais menores, não há como haver um ciclo de crédito robusto”, afirmou.

Já no caso da formação de capital fixo, a alta dos juros reais e a desvalorização do câmbio tendem a tornar os investimentos menos atrativos ao encarecer o custo de capital e a importação de máquinas e equipamentos, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra. “Além disso, o conjunto da economia está perdendo força. O clima macroeconômico não é propício a grandes investimentos.”

Antes da divulgação dos dados do terceiro trimestre, Oliveira estimava avanço de 2,5% do PIB para este ano e de 1,8% para 2014. Após conhecer o resultado de julho a setembro e também as revisões com a inclusão da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), as projeções passaram para 2,2% e 1,5%, respectivamente. Para ele, a avaliação do Copom no início do ano de que há um problema de oferta agregada na economia permanece válida, já que, em seus cálculos, a absorção doméstica (soma de consumo e investimentos privados e do governo) cresceu 3% nos 12 meses até setembro, acima do PIB.

Fernanda, do Plural, avalia que um crescimento de 1,1% nos três meses finais de 2013 deve garantir uma alta média anual de 2,5% da economia, mesma estimativa para o próximo ano. Ela observa, no entanto, que há “riscos negativos” para o cenário do ano que vem, com destaque para alta de 4% esperada para a FBCF, após o avanço de 6,1% projetado para este ano.