Falar sobre tratamento de resíduos sólidos é pensar em transformação e evolução. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), o Índice de Recuperação de Resíduos (IRR) tem uma taxa nacional de 2,2% atualmente. Até 2040, a meta é atingir 48,1%. Para isso, é preciso desenvolver práticas e processos que atendam à demanda.
A equipe de 50 profissionais do Instituto Senai de Tecnologia em Celulose e Papel, que fica Telêmaco Borba (PR), tem desempenhado um papel fundamental nessa busca. O trabalho realizado impulsiona indústrias, de todos os portes e segmentos, ao apresentar alternativas sustentáveis para o descarte de resíduos, que atendam à crescente conscientização sobre a preservação dos recursos naturais e às legislações ambientais.
A analista técnica do IST, Nayara Amany Dobzinski, explica que o instituto está transformando resíduos industriais que seriam descartados no meio ambiente em biocombustíveis sólidos, que contribuem diretamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Dois resultados dessa transformação são: os briquetes, que são blocos compactados de biomassa, geralmente produzidos a partir de resíduos agrícolas, florestais ou industriais, e os pellets – pequenos cilindros ou grânulos de biomassa compactada. No Senai, são desenvolvidos inúmeros trabalhos na área de biomassa a partir de diferentes materiais, desde serragem de madeira até a casca de arroz.
Inicialmente focado em resíduos do setor de celulose e papel, o Instituto expandiu seus estudos para outros ramos industriais e passou a trabalhar com resíduos alimentícios e agroindustriais, como bagaço de cana, palha de cana, casca de arroz, borra de café, painéis (que são substitutos ao MDF e MDP) e ainda com compósitos. “E o mais importante: todos produzidos de fontes alternativas. Essa abordagem tem valorizado resíduos anteriormente destinados a aterros, oferecendo soluções interessantes para as empresas”, reforça a analista.
O que não pode ser transformado em biomassa?
Em meio a tantos materiais diferentes, há a impressão que tudo pode ser transformado em biomassa e em fonte de energia limpa. Contudo, como explica a especialista do IST, materiais que geram grande quantidade de cinzas, aqueles inorgânicos que contêm forte presença de metais pesados, não são uma alternativa. Outros com grande quantidade de cloro em sua estrutura também devem ser evitados.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Sistema de Certificação da Qualidade para Pellets de Madeira (ENplus) definem, nacional e internacionalmente, valores máximos para cada componente presente na biomassa. “Quando constatado que o material não pode ser transformado e suas características microbiológicas permitem, uma alternativa é o painel de partículas aglomeradas, como MDF e MDP”, esclarece Nayara Amany.
Das pesquisas à realidade das indústrias
As pesquisas e aplicações desenvolvidas no IST Celulose e Papel têm contribuído com os processos mais sustentáveis de diversas indústrias. Com o apoio do Instituto, a BBA Indústria Química desenvolveu uma pasta química para fabricação de papel a partir de dejetos bovinos. “O projeto já está em fase de instalação de planta industrial no Paraná. O material fabricado deverá ser usado em vários tipos de embalagens, como papel de proteção de sapatos, preenchimento de papel cartão, confecção de papel higiênico, folhas de jornal, cadernos, entre outros”, exemplifica a analista técnica do IST.
Outra empresa que contou com o apoio do instituto e colocou no mercado uma opção inovadora é a Bricoffee, que transforma borra de café em energia sustentável, a partir de pellets, cujo poder calorífico é superior ao da madeira. Enquanto o de madeira de pinus é de aproximadamente 4.600 kcal, o de pellets de borra de café é 5.100 kcal.